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sábado, 24 de abril de 2010

SAIBA MAIS SOBRE COMO É A VIDA E OS DESAFIOS DOS ADOLESCENTES SUL-AFRICANOS

AIDS: Grandes desafios dos jovens sul-africanos Kinha Costa

01-12-2004

Se por um lado os jovens na África do Sul comemoram dez anos de democracia e o fim da era do governo separatista do apartheid, exercendo o direito de ir onde quiser, por outro lado, esses jovens enfrentam desafios que parecem intransponíveis a curto prazo: acesso a educação e a língua predominante – inglês, desemprego, criminalidade e talvez o mais cruel dos desafios, a epidemia da Aids.
Os jovens sul-africanos, como a maioria dos jovens do planeta, gostam de música, esporte, internet, amigos e festa. Porém a juventude sul-africana do século XXI está enfrentando um crescente problema que tem abreviado vidas, frustrado carreiras, diluído sonhos e transformado crianças e jovens rapidamente em adultos com sérias responsabilidades ao serem confrontados com a dura realidade do vírus HIV/ Aids.
Segundo dados do Ministério de Saúde sul-africano, 5.3 milhões de pessoas na África do Sul estão infectados com o vírus da Aids. 14.8% têm menos de 20 anos. 29.1% são jovens entre 20 e 24 anos. Mais de 40% da população da África do Sul – 45 milhões - tem menos de 20 anos. Segundo a ONG Love Life, 35% dos casos de contaminação do vírus HIV ocorrem antes dos 20 anos. O alto índice de infectados mostra que a epidemia tem implicações enormes no setor sócio-econômico do país.

Sexo e tabu

Apesar das campanhas na mídia, educação sexual nas escolas e o assunto despertar interesse internacional, falar abertamente sobre sexo ainda é um grande tabu nas famílias sul-africanas. As famílias delegam a tarefa de esclarecer, tirar dúvidas e informar os jovens às escolas e outros meios de que os jovens dispõem. Infelizmente falar sobre sexo tem a conotação de autorizar os jovens a iniciar vida sexual. A África do Sul é um caldeirão cultural. Na cultura zulu, por exemplo, as jovens só podem falar sobre sexo quando estão noivas, comprometidas para casar.
Em contra partida, o alto índice de adolescentes grávidas mostra que a vida sexual das garotas começa entre 13 e 14 anos. E segundo dados da Fundação Nelson Mandela, 90% dos casos de gravidez na adolescência são de relações com parceiros mais velhos.

Crenças

Crenças antigas também desafiam escolas, instituições e programas de prevenção. Um em três jovens acredita que ter relação sexual com uma virgem cura Aids.
Segundo dados da ONU, a África do Sul é o país onde ocorre o maior índice de estupro no mundo. A cada três minutos uma criança ou uma mulher está sendo violentada. 64% das vítimas de estupro têm entre 14 e 19 anos.
Freqüentemente os tribunais condenam jovens e homens adultos a penas que vão de cinco a dez anos, por estupro. E os jornais estampam manchetes com casos de estupro que vão de bebês a velhinhas.
A cultura sul-africana ainda é muito centrada no homem. Preocupar-se com gravidez é tarefa das mulheres. Na cultura, negra, sul-africana a poligamia é uma prática aceita. As mulheres ficam muito vulneráveis e dependentes dos homens. Esse pode ser um dos fatores determinantes do poder do homem sobre a mulher e da fragilidade das mulheres na hora do sexo. A recusa de uma relação sexual porque o parceiro não quer usar preservativo, muitas vezes, significa o fim de um possível relacionamento. Um em cinco jovens sul-africanos não usa preservativo. Um em dois jovens de 16 anos tem vida sexual ativa e uma em três jovens tem o primeiro filho aos 18 anos.


Impacto na vida das crianças

Segundo dados da Fundação Nelson Mandela, 660.000 crianças na África do Sul são órfãs. É difícil descrever os efeitos psicológicos que a doença causa nestas crianças. Aids não significa somente a perda dos pais, mas ao mesmo tempo a perda da infância. Quando pais e familiares ficam doentes, as crianças assumem responsabilidade de produzir salários, comida e cuidar dos doentes.
É quase impossível essas crianças terem acesso à nutrição adequada, saúde básica e educação.

Impacto na Educação

Queda na freqüência escolar é um dos mais visíveis mostradores dos efeitos da epidemia na vida escolar das crianças e dos jovens. Muitos param de ir à escola para cuidarem dos pais doentes. E com o número crescente de crianças e jovens infectados, muitos não vivem o suficiente para iniciar o ano escolar ou não sobrevivem ao ano letivo. As meninas são mais sacrificadas para cuidar de familiares e das tarefas domésticas. Os professores também são afetados. É freqüente a ausência do professor na sala de aula por causa de Aids ou de doenças correlatas.

Impacto no mercado de trabalho

O efeito da doença no mercado de trabalho, na economia e no progresso social é drástico. A grande maioria dos infectados na África do Sul tem entre 15 e 49 anos, praticamente a primeira fase da vida profissional.

Estudos mostram que com a epidemia da Aids, as empresas sofrem um acréscimo nos custos dos funcionários de 6 a 8% para cobrir gastos com: ausência no trabalho, queda na produtividade, assistência médica hospitalar e treinamento de novos funcionários, entre outros.

Medicamentos

Drogas e coquetéis estão no mercado internacional desde os anos 80, mas até recentemente os preços eram simplesmente inacessíveis. Na última década americanos e europeus pararam de morrer e pessoas portadoras do vírus HIV voltaram para o trabalho, mas na África as pessoas continuam a sucumbir em números crescentes.
Apesar da guerra entre os gigantes da indústria farmacêutica, países como Brasil, Índia e Tailândia, na contramão, começaram a produzir os genéricos, o que reduziu os preços das drogas drasticamente na África do Sul e no mundo.
Hoje as drogas estão mais acessíveis do que nunca, mas, mesmo assim, somente uma pequena parcela da população afetada na África do Sul, pode comprar e dispor da assistência que o tratamento exige.
Apesar de pertencer ao pequeno grupo de elite que pode comprar medicamentos, o líder ativista – indicado ao prêmio Nobel da Paz 2004 - Zackie Achmat, há seis anos criou a Campanha Ação e Tratamento e decidiu não tomar nenhum medicamento enquanto o governo sul-africano não providenciasse drogas grátis e assistência adequada para a população. Em junho último, ele teve que voltar atrás e entrou em tratamento pesado porque começou a desenvolver sintomas da doença. Segundo Zackie, o programa aplicado pelo governo sul-africano é ineficiente e está muito longe de atingir a população que sofre de Aids.

Campanha e prevenção

O governo do presidente Thabo Mbeki iniciou, em 2002, campanha de prevenção que inclui: educação sexual nas escolas; compra anual, de 400 milhões de preservativos para serem distribuídos pelo Ministério de Saúde; campanha de incentivo ao uso de preservativo, campanha de abstinência sexual; testes voluntários para grávidas; programa de assistência à transmissão vertical (mãe para filho), assistência integral para vítimas de estupro e assistência gradual para a população infectada.
O Instituto de Democracia da África do Sul, a Campanha de Ação e Tratamento e a empresa Anglo American formaram um Fórum para monitorar o programa de tratamento e assistência do governo. Na sua primeira coletiva, o Fórum anunciou que o progresso do programa do governo é muito lento e que a ministra da Saúde, Manto Tshabalala-Msimang, precisa assumir que realmente deseja fazer do programa um sucesso. Somente 8.000 pessoas no país estão sendo medicadas dentro do programa do governo. O plano original era atingir 53.000 até o final deste ano.
Segundo estatísticas do próprio governo, até o final do ano passado 500.000 pessoas iriam precisar dos medicamentos para viver.
Na região do Cabo Oeste quase 4.000 pessoas estão sendo assistidas pelo programa do governo e em Gauteng 2.800 pessoas. Apesar de Kwazulu-Natal ser a região mais atingida pela epidemia, somente 535 pessoas estão sendo atendidas pelo programa e pacientes estão sendo orientados para esperar até agosto do ano que vem, quando poderão fazer exames e ter acesso a medicamentos grátis. Na região de Limpopo, somente 20 pessoas estão sob tratamento. O Fórum constatou que as duas regiões receberam os medicamentos solicitados. Os órgãos oficiais responsáveis não responderam por quê o número de pessoas em tratamento nas duas regiões é tão baixo.
As regiões pobres não têm condições de implementar o programa sem a ajuda do governo: faltam escolas, assistência médica, clínicas, hospitais e comida nas comunidades carentes e nas áreas rurais.

Fonte:http://static.rnw.nl/migratie/www.parceria.nl/cienciaesaude/Aids_no_Mundo/do041201Aids_desafios-redirected

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