A
Psicogénese da Pessoa Completa, como é conhecida a teoria do estudioso francês
Henri Wallon, é um importante subsídio
para o aprimoramento da Educação, porque rompe com a dicotomia entre
afetividade e cognição e oferece fundamentos suficientes para um repensar da
prática pedagógica.
A teoria de Wallon apresentou uma visão não fragmentada do
indivíduo, que é entendido sob quatro diferentes pontos de vista: do motor, da
afetividade, da inteligência e do ponto de vista de sua relação com o meio. A
base de sua teoria é a integração afetiva-cognitiva-motora. Para o teórico, a
dimensão afetiva está completamente integrada aos demais aspectos do indivíduo
e a afetividade é fundamental para a construção do conhecimento do indivíduo. (ALMEIDA
e MAHONEY, 2007)
O ser humano é visto como um ser social, que constrói o
conhecimento na relação com o outro: aluno-professor, professor-aluno,
aluno-aluno e aluno-objeto. Assim, se dá o conhecimento no contexto escolar e nessa
interação com o outro surgem os sentimentos, as emoções; enfim, os aspectos
afetivos que compõem o funcionamento psíquico do ser humano.
O afeto, como parte integrante do processo educativo, é
responsável pela qualidade das relações pessoais e pela produtividade em sala
de aula. Dependendo do tipo de relação estabelecida entre os protagonistas, a
sala de aula será um ambiente gerador de alegria, entusiasmo,
segurança, cooperação e amizade ou gerador de angústias, estresse, ansiedade,
insegurança e individualismo.
De acordo com Rossini (2001), a afetividade é a base da vida.
Se uma pessoa não está bem afetivamente, sua ação como ser social estará
comprometida. No caso do aluno, se ele não se encontra bem afetivamente, não
haverá aprendizado. Por isso, a escola, antes de ser um espaço para produzir
conhecimento, deve constituir-se num espaço afetivo, no qual crianças,
adolescentes e profissionais da educação sintam-se felizes e gratos por fazer
parte da vida um do outro.
Wallon trouxe grandes contribuições para
formação dos educadores quando ensinou,
por exemplo, que é preciso buscar na escola o equilíbrio entre razão e emoção
para que as tensões que permeiam as relações em sala de aula possam contribuir
para a formação, o amadurecimento e a efetivação da aprendizagem.
Se na escola professor e aluno não possuem um vínculo afetivo, não
dialogam, se um não observa o gesto e o olhar do outro, não há atividade
emocional nesse ambiente. Que sentido o aluno dará ao objeto de conhecimento,
se a qualidade da relação com seu professor é ruim?
Moreno (2000:13), citado por Giancaterino (2007), faz uma crítica
aos conteúdos tradicionalmente desenvolvidos nas escolas que não contemplam
todos os conhecimentos e vivências necessárias para uma pessoa se desenvolver
autonomamente. Tudo o que concerne aos sentimentos, aos afetos e às relações
interpessoais, isto é, àqueles conhecimentos que continuamente usamos em nossas
relações com os demais, parece não merecer nenhum tipo de estudo, sendo
excluídos e deixados nas mãos do acaso.
Felizmente, há especialistas como a psicóloga Valéria Amorim
Arantes, doutora em Psicologia pela Universidade de Barcelona e professora da
Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, que defendem o estudo
sistematizado dos afetos e sentimentos, no cotidiano escolar, como objetos de
conhecimento. Para ela, valores e atitudes precisam ser aprendidos e devem ser
ensinados na escola; por isso propõe que os conteúdos relacionados à vida
pessoal e à vida privada das pessoas sejam inseridos de maneira transversal e
interdisciplinar nos conteúdos tradicionalmente desenvolvidos nas escolas por
meio de projetos. Segundo a autora, é preciso aproximar o sistema educacional
da vida das pessoas.
Desta forma, seria possível a aplicação das teorias de Wallon à
Educação; possibilitaria transformar emoções negativas
(desânimo, ansiedade, solidão, agressividade, ira, culpa e timidez), que se
manifestam em conflitos frequentes nas salas de aula, em emoções positivas
(bem-estar, satisfação com a vida, felicidade, alegria, otimismo, esperança, sabedoria,
amor e perdão). Por isso, trabalhar temas como valores na escola é essencial
para promover o pleno desenvolvimento e, principalmente, o constante
autodesenvolvimento de alunos e professores, que se tornarão capazes de
enfrentar e transformar conflitos em ações construtivas.
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