O que é uma crônica?
A crônica é um gênero literário produzido essencialmente para ser
vinculado na imprensa, seja nas páginas de uma revista, seja de um jornal.
Principais características:
- É um texto
curto, que se concentra em um único fato, algo do cotidiano, pode ser
um problema social ou um acontecimento banal.
- Seu tema é
ligo à vida cotidiana(um problema social, relações entre as pessoas, fatos
corriqueiros, banais, extraídos dos acontecimentos do dia a dia, por mais
irrelevante que ele seja.
- Possui poucos personagens, apenas aqueles que estarão envolvidos no
fato principal que você vai contar.
- Tem um tempo cronológico curto, isto é,
tudo se passa rápido, em um dia, ou menos que isso.
- Espaço
(lugar) reduzido, muitas vezes os fatos se passam num único espaço;
- Linguagem
coloquial na fala das personagens;
- Pode ter
caráter humorístico, crítico,
satírico e/ou irônico.
O cronista busca emocionar e envolver o leitor, levando-o a refletir
sobre problemas sociais sérios que afetam a sociedade.
Alguns
cronistas brasileiros: Fernando
Sabino, Rubem Braga, Luis Fernando Veríssimo, Carlos Heitor Cony, Carlos
Drummond de Andrade, Fernando Ernesto Baggio, Lygia Fagundes Telles, Machado de
Assis, Max Gehringer, Moacyr Scliar, Pedro Bial, Arnaldo Jabor, dentre outros.
Leia a crônica de Fernando Sabino:
A última crônica
A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria o meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.
Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.
Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês.
O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho - um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular. A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.
São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: "Parabéns pra você, parabéns pra você..." Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura - ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido - vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.
Fonte: http://pensador.uol.com.br/frase/NTE2Njky/
MODELO PARA PRODUÇÃO DO PLANEJAMENTO DO TEXTO NARRATIVO
GÊNERO CRÔNICA
TEMA: Exploração do trabalho infantil doméstico.
Personagens principais: Cenira (a menina), a patroa
e o procurador do Ministério Público do Trabalho.
secundários: os pais e os irmãos da Cenira e a vizinha da patroa.
Enredo: A
crônica conta a história de Cenira, que, aos 10 anos, saiu do interior do Pará
e foi para Belém, com a promessa de um futuro melhor, que incluía estudos na
capital. Mas, ao contrário disso, a menina desembarcou do ônibus numa cidade
onde não conhecia ninguém foi direto para a casa onde trabalharia, moraria e
aprenderia as duras lições da rotina diária de uma empregada doméstica, que
trabalhava das 6 horas da manhã
até a meia noite, de segunda a domingo.
Narrador: narrador-observador ( x )
narrador-personagem ( )
Tempo: Numa
tarde de sexta-feira.
Espaço
(lugar em que acontecerá a história): A rodoviária, a casa da patroa de Cenira
e o abrigo para crianças.
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