Há dois anos, para cada dez meninas entre 13 e 19 anos que se descobriam portadoras do vírus HIV, existiam oito meninos. No ano passado, essa proporção passou para seis adolescentes do sexo masculino a cada dez do feminino.
É de olho nesse aumento do índice de jovens contaminadas pelo HIV que o Ministério da Saúde irá focar a campanha publicitária de prevenção à Aids do Carnaval deste ano na faixa etária entre 13 e 19 anos - a única, entre adolescentes e adultos, em que o número de mulheres contaminadas supera o de homens.
Segundo o chefe da unidade de vigilância epidemiológica do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Gerson Fernando Pereira, a explicação para esses números está ligada à descoberta da sexualidade.
"Observamos que as mulheres estão se iniciando na vida sexual cada vez mais cedo. E, principalmente nessa faixa etária (de 13 a 19 anos), elas têm pouco poder de convencimento para fazer com que o parceiro use um preservativo, ficando muito vulneráveis ao contágio", observa.
Para Pereira, as campanhas publicitárias da Pasta - que neste ano irão enfocar a importância de se realizar testes de Aids - combinam-se a outras ações realizadas pelo ministério ao longo do ano. "Acredito que exista muita falta de informação. Por isso, além das campanhas publicitárias, procuramos orientar constantemente os profissionais da área da Saúde no País", completa.
Doença morta - Na opinião do médico infectologista e chefe do ambulatório de referência de moléstias infecciosas da Unidade de Saúde Vila Guiomar, em Santo André, Humberto Barjud Onias, além do problema da baixa capacidade de argumentação das adolescentes, existe o fato de muitos jovens encararem a Aids como uma "doença morta".
"Já não se veem mais pessoas famosas morrendo em consequência da contaminação pelo vírus HIV. Com isso, as pessoas acreditam que não se pega mais essa doença e se tornam negligentes. Acredito que os adolescentes da década passada eram muito mais preocupados em relação à Aids do que os dessa geração", comenta Onias.
O Ministério da Saúde registrou 11,5 mil mortes no Brasil em 2008 em decorrência da Aids. Destas, 3.100 foram notificadas no Estado de São Paulo.
‘É preciso trabalhar a aceitação da doença'', afirma psicóloga
Deprimidos, negando a doença e até esperando um milagre divino. É assim que muitos jovens chegam à porta da sala da psicóloga Vera Lucia Mencarelli, no Ambulatório de Moléstias Infecciosas da Unidade de Saúde Vila Guiomar - referência para o tratamento de Aids em Santo André -, após serem confrontados com a notícia de que são portadores do vírus HIV.
"É preciso trabalhar para que o jovem passe a aceitar a doença, ao mesmo tempo em que ele desfaz ideias fantasiosas sobre a Aids, como a de que ele irá morrer rápido. A figura de Cazuza ainda é muito emblemática", afirma Vera Lucia.
Segundo ela, esse processo de aceitação inclui muitas vezes a revelação da doença à família, ou, em alguns casos, em assumir a homossexualidade.
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