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sábado, 28 de agosto de 2010

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16/11/2009 - 18:05 - Atualizado em 17/11/2009 - 20:39 Como os nossos pais?

Divididos entre o autoritarismo e a permissividade, os filhos dos anos 70 encaram a dificuldade de criar os adolescentes de hoje

EDNA DANTAS E ELISA MARTINS

'No meu tempo não era assim.' Quem era adolescente na década de 70 cansou de ouvir essa frase dos próprios pais. Ela era geralmente utilizada para pôr fim a discussões inflamadas durante as quais os filhos tentavam entender por que não podiam fazer determinada coisa. A tijolada derrubava qualquer argumentação e deixava no ar a certeza de que a rebeldia era a única saída. Hoje, quase 30 anos depois, aqueles adolescentes viraram pais num mundo muito mais complicado. Em primeiro lugar, porque hoje em dia o mínimo que se espera dos pais é diálogo. Em segundo lugar, porque não podem apelar para a frase-tijolada - no tempo deles era assim, sim, ou muito parecido.
Do outro lado do balcão, no papel de pais, a vida ficou cheia de dúvidas e contradições para aqueles jovens que romperam barreiras, derrubaram tabus, revolucionaram costumes e enfrentaram proibições com a determinação de quem encara uma guerra. 'A educação formal, arbitrária e imposta sem diálogo, foi o principal alvo de um desmonte progressivo e irreversível que ocorreu na sociedade', diz a professora e terapeuta Lulli Milman, do Serviço de Psicologia Aplicada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O medo de reprimir, censurar e reproduzir receitas conservadoras divide espaço na cabeça dos pais de hoje com o instinto de proteger os filhos. Parte dessa nova geração de pais resiste em dar limites às crianças. 'Passou a circular uma idéia de que não se pode dizer não aos filhos', afirma a terapeuta. Outros pais e mães acabaram 'esquecendo' seus anos rebeldes e agindo igualzinho a seus pais e suas mães: com proibições, imposições e pouca conversa, principalmente quando os temas são namoro, horários, sexo e drogas. São tempos de ambigüidade.


MARCELO D2, 34 ANOS, E STEPHAN, 11

Um dos fundadores da banda Planet Hemp, preso e processado por apologia às drogas, D2 fala abertamente sobre o assunto com Stephan, fruto de seu primeiro casamento. 'Quando ele quiser experimentar, vamos sentar, conversar e ver se é mesmo o momento', pondera. 'Ele sabe que eu fumo. Não diz nada, mas faz cara de nojo', conta o rapper. A relação dos dois é de camaradagem, sem proibições. 'Só não gosto de que ele veja certas coisas na TV. O culto à violência me preocupa', diz D2. Certa vez, ele viu que Stephan tinha aberto uma cerveja. 'Perguntei se ele tinha experimentado. Ele respondeu que sim, mas que não tinha gostado', lembra o rapper. E se a resposta fosse outra? 'Não vejo problema. Ele tem consciência das coisas.' Bem mais tímido que o pai, Stephan não se sente à vontade para conversar sobre garotas. 'Mas falo muito sobre camisinha e a importância de se preparar', diz D2, que só é rígido com dinheiro. Stephan não recebe mesada - tem de pedir quando quer comprar algo.
Muita gente resolveu dar à cria a autonomia que não teve. 'A falta de liberdade foi um dos fatores determinantes para que os jovens daquela época desejassem tão ardentemente sair de casa, mesmo que fosse para morar em repúblicas ou dividir apartamentos mínimos com amigos', diz a educadora Tania Zagury, autora de dez livros. Por isso, hoje, o cenário é bem diferente. Os jovens têm o próprio quarto, o respeito dos membros da família a seu espaço, permissão para levar namoradas e namorados para casa, trancam-se quando não desejam falar com ninguém. Talvez por isso não façam o menor sacrifício em prol de ter o próprio canto. Casam-se mais tarde e, se a união não dá certo, voltam sem drama para a casa dos pais. 'Este conjunto de elementos contribui para o alongamento da adolescência', acrescenta Tania. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera esse período como sendo aquele que vai dos 10 aos 20 anos - mas já se aceita que ele se estenda até os 22 ou 23 anos.

JÚLIA LEMMERTZ, 40 ANOS, E LUÍSA, 15
A atriz Júlia Lemmertz vive um dilema. Não sabe exatamente o que pode e o que não pode deixar a filha Luísa fazer. 'Gosto de ir buscá-la quando ela sai à noite', diz. 'Temos mais ou menos um acordo: pergunto onde é a festa e se tem telefone para o qual eu possa ligar', conta. O dilema de Júlia é o mesmo de muitas mães. Ao mesmo tempo em que teme ser liberal demais, não quer ser uma mãe castradora. 'Tento me controlar. E confio muito na Luísa; ela não é do tipo que diz que vai para um lugar e vai para outro.' Aos 13 anos, Luísa fez um piercing na orelha sem consultar Júlia. 'Ela sabe que se me perguntasse eu não ia gostar, pois ela poderia se arrepender depois', justifica a mãe. As duas vão juntas a shows, cinema e teatro. Conversam sobre tudo. 'Digo que ela está no começo da vida. Nessa idade a curiosidade é normal, mas há outras coisas muito melhores para fazer do que pensar em drogas ou bebidas', explica Júlia.
A confusão de valores dos pais teve graves conseqüências para a atual geração de adolescentes, uma população de quase 39 milhões no Brasil segundo o último censo. Meninos e meninas têm contato com cigarro, álcool e drogas cada vez mais cedo - mesmo que não experimentem, ficam expostos por causa dos amigos. A precocidade se estende a outras áreas, como a iniciação sexual. Segundo dados do Prosex, o Projeto de Sexualidade do Hospital das Clínicas, em São Paulo, a idade média da primeira relação caiu para 13 anos em ambos os sexos. Opior é que, na maioria das vezes, ela ocorre sem camisinha e sem contraceptivo. Os números do país de gravidez na adolescência viraram questão de saúde pública. Nos últimos quatro anos, o Ministério da Saúde registrou estratosféricos 2,6 milhões de partos em meninas com idade entre 10 e 19 anos. No ano passado, a média era de 1.700 partos diários, representando 26% do total de nascimentos. O flanco também ficou aberto para a Aids: em 2000, foram notificados 342 novos casos, sendo 191 em garotas e 151 em garotos. A geração atual, diferentemente daquela dos anos 80 e 90, não viu seus ídolos e amigos morrendo de Aids, por isso tem menos noção do risco que correm ao fazer sexo sem prevenção.
Os pais têm mesmo de rever sua atuação. Um levantamento da CPM Market Research com 500 adolescentes das classes A e B de São Paulo mostra que o diálogo com a família não é a principal fonte de informação. Entre os meios que utilizam para saber sobre sexo, o item 'conversa com amigos' vem em primeiro lugar, seguido de 'artigos em revistas'.

Fonte:http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI39795-15228,00-COMO+OS+NOSSOS+PAIS.html

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