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terça-feira, 17 de maio de 2011

UMA DICA DE LEITURA

Maurício Pereira - autor do livro CONTOS DE ASSOMBRAÇÃO

O Corpo-Seco

Estes fatos há tempos aconteceram
Os antigos já contavam
Falam sobre homens que já morreram
Mas que da morte retornavam

Se você não é de acreditar
Nunca é tarde para começar
Um morto-vivo, uma assombração
Que apavorava o povo lá de Redenção

Do meio do mato ele aparece
Geralmente quando anoitece
Muito feio e seco, de feições sujas
Assustando os cães, as caças e as corujas

No meio da floresta escura é o senhor
Não tem lenha ou cipó para o lenhador
Não passa de um velho esqueleto
Corre minha gente, corre do bicho preto

Andam sempre com insetos, mariposas
Vivos eram pessoas ruins, não faziam nada decente
Batiam em seus pais e suas esposas
É Coisa-Ruim em forma de gente

Quando morreu ninguém o aceitou
Nem no céu, nem no inferno
Na cova, até a terra o rejeitou
E hoje seu perambular é quase eterno

O ser cadavérico saiu do chão
Rondando o mundo dos vivos
Apareceu no cemitério em Redenção
Numa noite de ventania o ser nocivo

O coveiro o viu do lado da sepultura
Reconheceu o defunto e foi contar o que viu
Sumindo da vista da criatura
Acorda padre! Que o bicho já surgiu!



O padre acordou assustado naquela noite fria
Com o relato de que o velho Castro havia voltado
Colocou a batina, pegou a bíblia na sacristia
Água Benta e crucifixo, sem deixar nada de lado

Seria o velho Castro, um fazendeiro rico da região
Famoso por judiar de seus escravos
Foi carregado ainda vivo por seres da escuridão
De sua fortuna não sobraram nem centavos

Chegando lá o padre o avistou
O Corpo seco estava sentado no túmulo aberto
Seu dedo podre pro mato apontou
O morro do Gramado é o lugar certo

Mas quem levaria o finado?
Alguém de muita coragem havia de existir
O Zezinho Pereira topou carregar o danado
Disse que não tinha medo e não iria desistir

No dia seguinte eles voltaram
Da meia-noite já havia passado
Benzeram a cova e rezaram
Levando o morto ao Morro do Gramado

Foram duas horas caminhando
Rezando o Pai Nosso na estrada
E com vara de marmelo foi surrando
Batendo no lombo da alma-penada

Ela ficou no escuro perto de um bambuzal
Eles voltaram de ré até o bicho não mais avistar
A uma certa distância onde não pudesse fazer mal
E assim o Corpo-Seco despistar

Procurando atravessar por um rio
Correram na mata em alta madrugada
Antes que o Curiango desse mais um pio
Pois não passa pela água a criatura estragada

O Bento Rosa conta até então
Que já viu o Corpo-Seco
No meio do Matão
Fingindo ser um cepo


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