CULTURA DE PAZ VIRANDO A MESA DA VIOLÊNCIA 14/02/2003 por Diogo Dreyer A incidência de crimes violentos no país, principalmente envolvendo jovens em idade escolar, desperta o sentimento de que alguma coisa deve ser feita. Mas muita gente acredita que não se chega a lugar algum apenas aumentando o policiamento e com repressão. É preciso transformar a paz em uma cultura, mudando a maneira de as pessoas se relacionarem e colocando a paz como uma questão de postura e de respeito. A série de quatro reportagens do Portal — dividida em questões fundamentais para essa discussão: escola, drogas, família e mídia — mostra como se pode criar uma cultura de paz e de que maneira algumas formas de violência atingem o Brasil, principalmente a escola. |
Era tarde na Escola Estadual Coronel Benedito Ortiz quando vários alunos que estavam em recuperação aproveitavam o horário de recreio no pátio. A escola fica em Taiúva, uma cidadezinha no interior de São Paulo com aproximadamente 5 mil habitantes e que, de tão pequena, é classificada como uma daquelas cidades que nem estão no mapa.
O delegado encarregado afirmou que o crime já vinha sendo planejado há pelo menos dois meses. Além disso, um amigo de Edmar provavelmente sabia o que estava por vir, pois foi comprar as balas juntamente com o jovem. Em uma entrevista para o Portal, uma semana antes da tragédia, a pesquisadora Miriam Abramovay lembrava o massacre na Escola Secundária Columbine. Em 20 de abril de 1999, a pacata cidade de Littleton, no Colorado, foi palco da maior chacina em um estabelecimento escolar ocorrida até hoje nos EUA. Mascarados e fortemente armados, Dylan Klebold e Eric Harris, ambos de 18 anos, invadiram aquela escola e executaram 13 pessoas. Horas depois, cercados pela Swat, suicidaram-se. Miriam lembrava que 17 alunos sabiam que o crime iria ocorrer, mas não foram capazes de contar a ninguém e evitar que o massacre acontecesse. “Isso provou que não havia confiança entre essa juventude e qualquer elemento da escola ou até mesmo os pais para que eles contassem o que estava acontecendo. A escola não é aberta para discussões e, muitas vezes, os adultos não escutam ou até fecham os olhos para o que se passa com os alunos”, diz.
Professora da Universidade Católica de Brasília, a socióloga Miriam Abramovay se dedica ao estudo dos jovens escolarizados do Brasil. Entre muitos trabalhos que publicou, destacam-se Gangues, Galeras, Chegados e Rappers (Editora Garamond, 1999) e Escolas de Paz (Edições Unesco, 2001). Recentemente, ela coordenou a pesquisa “Violência, Drogas e Aids nas Escolas”, que já originou os livros Escola e Violência e Escola e as Drogas (Edições Unesco, 2002). Miriam, uma das mais respeitadas especialistas do assunto no país, é também vice-coordenadora do Observatório sobre Violências nas Escolas no Brasil e consultora do Escritório das Nações Unidas para o Controle de Drogas e Prevenção ao Crime (UN ODCCP) e do Banco Mundial de pesquisas e avaliações em questões de gênero, juventude e violência. Para ela, a representação social que as pessoas têm da escola é de um lugar tranqüilo, seguro e de paz. “Quando pensamos em qualquer coisa ligada à infância ou à adolescência, pensamos em espaços protegidos. Quando a escola passa a ser um espaço não protegido, de violência, todos sentem, não só os jovens”, lembra. “Daí para a cultura do ódio é um passo”. Cultura de paz Na série de reportagens que o Portal preparou sobre a cultura de paz, a pesquisadora e outros especialistas falam sobre esse assunto, que é essencial para desarmar o verdadeiro estado de guerra instalado no país. É impossível pensar em soluções para a violência sem considerar questões como a qualidade das relações familiares, a capacidade de lidar com frustrações, os valores transmitidos em casa, na escola e na mídia, o uso de drogas, o acesso à educação. É impossível falar em cultura de paz sem falar em transformação e sem questionamento de valores e comportamentos. “Cultura de paz é um conjunto de transformações necessárias e indispensáveis para que a paz seja o princípio governante de todas as relações humanas e sociais”, explica Feizi Milani, presidente do Instituto Nacional de Educação para a Paz e os Direitos Humanos. Ele explica que paz, ao contrário do que muita gente pensa, não significa ausência de ação, monotonia, passividade. Pelo contrário, é algo dinâmico, em contínua construção, que exige permanente diálogo para inverter os valores que levam à violência, como o individualismo, a competição, o ódio e o preconceito. Fonte:http://www.educacional.com.br/reportagens/cultura_paz/default.asp | ||||
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