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sábado, 28 de agosto de 2010

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16/11/2009 - 18:05 - Atualizado em 17/11/2009 - 20:39 Como os nossos pais?

Divididos entre o autoritarismo e a permissividade, os filhos dos anos 70 encaram a dificuldade de criar os adolescentes de hoje

EDNA DANTAS E ELISA MARTINS

'No meu tempo não era assim.' Quem era adolescente na década de 70 cansou de ouvir essa frase dos próprios pais. Ela era geralmente utilizada para pôr fim a discussões inflamadas durante as quais os filhos tentavam entender por que não podiam fazer determinada coisa. A tijolada derrubava qualquer argumentação e deixava no ar a certeza de que a rebeldia era a única saída. Hoje, quase 30 anos depois, aqueles adolescentes viraram pais num mundo muito mais complicado. Em primeiro lugar, porque hoje em dia o mínimo que se espera dos pais é diálogo. Em segundo lugar, porque não podem apelar para a frase-tijolada - no tempo deles era assim, sim, ou muito parecido.
Do outro lado do balcão, no papel de pais, a vida ficou cheia de dúvidas e contradições para aqueles jovens que romperam barreiras, derrubaram tabus, revolucionaram costumes e enfrentaram proibições com a determinação de quem encara uma guerra. 'A educação formal, arbitrária e imposta sem diálogo, foi o principal alvo de um desmonte progressivo e irreversível que ocorreu na sociedade', diz a professora e terapeuta Lulli Milman, do Serviço de Psicologia Aplicada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O medo de reprimir, censurar e reproduzir receitas conservadoras divide espaço na cabeça dos pais de hoje com o instinto de proteger os filhos. Parte dessa nova geração de pais resiste em dar limites às crianças. 'Passou a circular uma idéia de que não se pode dizer não aos filhos', afirma a terapeuta. Outros pais e mães acabaram 'esquecendo' seus anos rebeldes e agindo igualzinho a seus pais e suas mães: com proibições, imposições e pouca conversa, principalmente quando os temas são namoro, horários, sexo e drogas. São tempos de ambigüidade.


MARCELO D2, 34 ANOS, E STEPHAN, 11

Um dos fundadores da banda Planet Hemp, preso e processado por apologia às drogas, D2 fala abertamente sobre o assunto com Stephan, fruto de seu primeiro casamento. 'Quando ele quiser experimentar, vamos sentar, conversar e ver se é mesmo o momento', pondera. 'Ele sabe que eu fumo. Não diz nada, mas faz cara de nojo', conta o rapper. A relação dos dois é de camaradagem, sem proibições. 'Só não gosto de que ele veja certas coisas na TV. O culto à violência me preocupa', diz D2. Certa vez, ele viu que Stephan tinha aberto uma cerveja. 'Perguntei se ele tinha experimentado. Ele respondeu que sim, mas que não tinha gostado', lembra o rapper. E se a resposta fosse outra? 'Não vejo problema. Ele tem consciência das coisas.' Bem mais tímido que o pai, Stephan não se sente à vontade para conversar sobre garotas. 'Mas falo muito sobre camisinha e a importância de se preparar', diz D2, que só é rígido com dinheiro. Stephan não recebe mesada - tem de pedir quando quer comprar algo.
Muita gente resolveu dar à cria a autonomia que não teve. 'A falta de liberdade foi um dos fatores determinantes para que os jovens daquela época desejassem tão ardentemente sair de casa, mesmo que fosse para morar em repúblicas ou dividir apartamentos mínimos com amigos', diz a educadora Tania Zagury, autora de dez livros. Por isso, hoje, o cenário é bem diferente. Os jovens têm o próprio quarto, o respeito dos membros da família a seu espaço, permissão para levar namoradas e namorados para casa, trancam-se quando não desejam falar com ninguém. Talvez por isso não façam o menor sacrifício em prol de ter o próprio canto. Casam-se mais tarde e, se a união não dá certo, voltam sem drama para a casa dos pais. 'Este conjunto de elementos contribui para o alongamento da adolescência', acrescenta Tania. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera esse período como sendo aquele que vai dos 10 aos 20 anos - mas já se aceita que ele se estenda até os 22 ou 23 anos.

JÚLIA LEMMERTZ, 40 ANOS, E LUÍSA, 15
A atriz Júlia Lemmertz vive um dilema. Não sabe exatamente o que pode e o que não pode deixar a filha Luísa fazer. 'Gosto de ir buscá-la quando ela sai à noite', diz. 'Temos mais ou menos um acordo: pergunto onde é a festa e se tem telefone para o qual eu possa ligar', conta. O dilema de Júlia é o mesmo de muitas mães. Ao mesmo tempo em que teme ser liberal demais, não quer ser uma mãe castradora. 'Tento me controlar. E confio muito na Luísa; ela não é do tipo que diz que vai para um lugar e vai para outro.' Aos 13 anos, Luísa fez um piercing na orelha sem consultar Júlia. 'Ela sabe que se me perguntasse eu não ia gostar, pois ela poderia se arrepender depois', justifica a mãe. As duas vão juntas a shows, cinema e teatro. Conversam sobre tudo. 'Digo que ela está no começo da vida. Nessa idade a curiosidade é normal, mas há outras coisas muito melhores para fazer do que pensar em drogas ou bebidas', explica Júlia.
A confusão de valores dos pais teve graves conseqüências para a atual geração de adolescentes, uma população de quase 39 milhões no Brasil segundo o último censo. Meninos e meninas têm contato com cigarro, álcool e drogas cada vez mais cedo - mesmo que não experimentem, ficam expostos por causa dos amigos. A precocidade se estende a outras áreas, como a iniciação sexual. Segundo dados do Prosex, o Projeto de Sexualidade do Hospital das Clínicas, em São Paulo, a idade média da primeira relação caiu para 13 anos em ambos os sexos. Opior é que, na maioria das vezes, ela ocorre sem camisinha e sem contraceptivo. Os números do país de gravidez na adolescência viraram questão de saúde pública. Nos últimos quatro anos, o Ministério da Saúde registrou estratosféricos 2,6 milhões de partos em meninas com idade entre 10 e 19 anos. No ano passado, a média era de 1.700 partos diários, representando 26% do total de nascimentos. O flanco também ficou aberto para a Aids: em 2000, foram notificados 342 novos casos, sendo 191 em garotas e 151 em garotos. A geração atual, diferentemente daquela dos anos 80 e 90, não viu seus ídolos e amigos morrendo de Aids, por isso tem menos noção do risco que correm ao fazer sexo sem prevenção.
Os pais têm mesmo de rever sua atuação. Um levantamento da CPM Market Research com 500 adolescentes das classes A e B de São Paulo mostra que o diálogo com a família não é a principal fonte de informação. Entre os meios que utilizam para saber sobre sexo, o item 'conversa com amigos' vem em primeiro lugar, seguido de 'artigos em revistas'.

Fonte:http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI39795-15228,00-COMO+OS+NOSSOS+PAIS.html
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Revista Época

Não está na hora de o brasileiro começar a ter responsabilidade para colocar uma vida no mundo? É necessário instaurar uma política de controle a natalidade no país? Amaro Pereira, Rio de Janeiro, RJ

Em vez de controle da natalidade eu chamaria de planejamento familiar. Porque controle da natalidade é uma palavra que até está gasta, e implica numa posição de autoridade com relação à vida privada de cada família. O que eu acho que está na hora, e que na verdade todos os governos não dão conta. As famílias pobres não têm acesso à pílula anticoncepcional - ou elas comem, ou compram pílula. À camisinha. Diafragma, DIU, então, nem se fala. É através de acesso à promoção de planejamento familiar a todos os homens e mulheres do Brasil é que vai se ter uma vida mais digna. Os postos de saúde têm de dar informação e recursos. Não adianta me informar que tenho que tomar pílula se não tiver dinheiro para comprar. O problema de saúde é muito intersetorial: tem que ter dinheiro. E o posto de saúde não vai poder fornecer o tempo inteiro. Para todas as comunidades, não há recursos para isso. Mas diafragma é um anticoncepcional relativamente barato, você pode usar por anos. Mas assim como é um problema de acesso, a informação não pode ser ensinada de cima para baixo. Você procura entender o que as pessoas já sabem nessa área. E existe uma série de dúvidas que as pessoas têm vergonha de dizer.
Já fui Secretaria Municipal de Saúde e constatei, na prática, o "falso tratamento”. Existe um diálogo entre a ONG e Ministério da Saúde? É possível integrar hospital, equipes de saúde da família e assistência social? Lílian Reis, Taquari, Rio Grande do Sul
O Ministro da Saúde conhece profundamente o Renascer e um de seus assessores veio aqui. E disse: Isso aqui é o ovo de Colombo, vocês estão cercando por todos os lados! O Ministério da Saúde tem tantos desafios daqui para a frente, veja a dengue. Ele está com uma idéia muito boa de os hospitais terem fundações, porque a saúde é tão cara, tomografia, só os exames que tem que fazer, como isso é caro para os cofres públicos! O ministro da saúde, Temporão, que eu respeito muito, quer fazer nos hospitais que melhor trabalham, fundações. O Inca aqui no Rio de Janeiro conta com fundações que ajudam com recursos complementares aos do governo e torna aquele hospital de qualidade. Mas quando alguém da saúde diz isso é uma polêmica danada. Temporão está certo. A saúde para o criança Renascer é um conceito amplo: emprego, moradia, atendimento psicológico, não-violência, é tudo. Tudo acaba provocando doença. Como é que o governo vai dar conta da saúde, só com ações médicas, de um país com esse tamanho e essa desigualdade social? Mais de 500 anos de desigualdade? Empresas e fundações têm que apoiar hospitais públicos. Se uma fundação ligada a um hospital coloca, com transparência, as contas na internet, você não vai dar dinheiro para essa instituição? O governo sozinho não consegue dar conta. Todos os governos ótimos e eficientes, num mundo utópico, já não seria suficiente para algo tão complexo quanto a saúde pública de um país. Em todos os países do mundo. E, em certas situações, o Brasil é muito mais avançado. Aqui o acesso a hospitais é aberto a todo mundo. Aqui você pode morrer na fila, mas não é em todo lugar que esse acesso é universal.
Por que existem tantas ONG’s no Canadá? Ainda que seja um governo rico, o governo não dá conta de todo o problema social dos seus habitantes. Os governos têm uma estrutura que não é ágil, tem muitas regras. Na área de saúde, por exemplo, eu sou contra a estabilidade de funcionários públicos. Numa empresa privada, se o funcionário não trabalhar bem, ele é demitido. Assim como na Renascer. Tem que acontecer a mesma coisa no serviço público. A garantia de emprego vitalício faz com que haja acomodações. As instituições que têm agilidade e eficiência têm que se basear no mérito das pessoas que as fazem funcionar.
Sou psicóloga e estou terminando um doutorado em gravidez na adolescência. Observo que, no atendimento público, muita coisa melhorou, mas minimizar as conseqüências da pobreza na vida das gestantes é que parece ser o ponto vulnerável da questão. Como a senhora lidou com essa questão? Que orientação a senhora daria a alguém que não tem noção de como se organiza uma ONG? Ana Otoni, Rio de Janeiro, RJ
Quem não conhece uma ONG deve ir ser voluntária numa organização social confiável, principalmente nos termos da Ashoka e da Avina, instituições que são como selos de qualidade. Procurar células delas e estagiar como voluntária para entender como funciona a organização. Porque eles são os melhores professores para alguém que queira montar uma organização social.
Nós temos um grupo de adolescentes aqui. Tudo começa com a criança doente do Hospital da Lagoa. Mas o meu sonho é que cada hospital do mundo tenha uma adoção semelhante, não para substituir o governo, mas para complementar o governo. Esses adolescentes são irmãos da criança internada e moram em área de risco, em área de tráfico de drogas. Como a gente faz para prevenir que esse adolescente não se meta em uma encrenca, não vire aviãozinho? A gente discute com psicólogo, assistente social, a vida deles, entre eles. Eles escolhem muitas vezes o tema, mas é muito baseado em sexualidade, gravidez na adolescência. Porque nem a escola nem os pais falam direito. É bonito de ver, um grupo misto de meninos e meninas, a maioria adolescentes, começando a falar coisas que não falam nem em casa nem entre eles, morrendo de rir, tirando as dúvidas sobre a sexualidade. Esse é o primeiro passo: a promoção da troca de informações, de grupos de escuta entre eles com o auxílio de profissionais competentes. Agora, para lidar com a miséria, as nossas crianças têm o apoio estrutural dado à família. O problema principal é a pobreza, ela é nosso core business. Além de lidarmos com os irmãos, estamos empoderando a mãe, dando curso de cabeleireiros, capacitando a mulher dentro da casa dela. A gente ajuda até a montar um puxadinho do lado da casa e ela ganha dinheiro como cabeleireira, manicure, compra um celular e aumenta sua renda.
Fizemos estudos que provaram o aumento de renda: de 108 famílias estudadas antes e depois do programa, notou-se um aumento de 46%. E a quantidade de crianças em situação clínica boa passou de 19% para 47%. Isso significa que não adianta substituir o governo. Não fazemos hemograma, tomografia computadorizada, mas damos sentido e incentivamos as ações governamentais. Em 2005 fizemos uma pesquisa de quanto foi a economia com a diminuição das internações a partir do programa. Foram R$ 777.920 gastos a menos pelo governo em um ano, só com 142 crianças. Pense agora em quanto economizamos em sofrimento.
O Renascer é uma iniciativa da sociedade civil, que acaba por suprir uma carência na área de saúde que é de responsabilidade do governo. Por que as esferas governamentais não usam o modelo do Renascer? Claudio Lins, Rio de Janeiro, RJ
O governo de São Paulo e a prefeitura de Minas Gerais estão querendo fazer. E o de São Paulo, nos termos do que estamos fazendo: fora do hospital, prestando serviço para o hospital. Lá fora, quando eu viajo, todo mundo que trabalha com organizações sociais conhece o Renascer como um case de sucesso de estudo. Aqui, não sei o que acontece. Acho que é um preconceito com ONG. Mas a Ashoka é uma ONG, os Médicos Sem Fronteiras também, o Greenpeace. Então, claro, assim como tem médicos assassinos, tem ONGs que roubam, mas os vários trabalhos bacanas não são divulgados. O Brasil é um celeiro de organizações sociais sérias e não se publica isso. Então, elas são desconhecidas. As pessoas não entendem o conceito de organização social. A ONG pode ser ótima, séria, honesta, mas não necessariamente existir nela o empreendedorismo social. O que é um empreendedor social? É uma pessoa que trabalhou muito tempo em determinada área, a entendeu profundamente e mudou o paradigma naquela área. Quer fazer uma nova escola. O que eu estou tentando fazer é mudar a forma como os profissionais vêem a saúde. E o empreendedor social não fica satisfeito enquanto o conceito que ele quer difundir não são absorvidos pelo status quo. Enquanto não entenderem que saúde não é só dar penicilina e mandar para casa, e não tenha uma visão integrada de saúde, eu não vou sossegar. E o empreendedor não quer só mudar com palavras, quer mostrar na prática que funciona. E não é só uma instituição. Aquele plano que levou anos para ser construído, descoberto o remédio, tem que ir para Bangladesh. Porque a gente sabe que aquilo funciona, então não quer aquilo só para 100 pessoas. Tem uma frase do Fazle Abed, fundador do BRAC, o maior projeto social do mundo, que diz: “small is beautiful, but big is necessary”. Então é isso: o pequeno é bonito, mas hoje em dia a probreza no mundo é tanta que o grande é necessário.
É o que o fundador da Ashoka falou agora em Oxford: não quero mais ouvir falar em for profit e non profit. É um mundo só. Ou vamos todos ou não vão nenhum. O Chiquinho (personagem dos produtos cuja venda é revertida para a ONG), por exemplo. Eu entendi que um dia eu tinha que criar uma empresa dentro do Renascer, para eu no futuro não ter de ser uma mendiga internacional como sou hoje. E porque é importante um líder trabalhar para fundar uma instituição, mas o que vai sobreviver é a instituição.
 
Como é captar recursos pra ir em frente com sua maravilhosa obra, todos os meses? Quais são as principais dificuldades? Elias da Silva Araújo, São Paulo, SP
Nos Estados Unidos, como cidadão americano, você pode doar parte do seu imposto de renda para o governo, parte para a instituição que você acredita. Claro que não é toda instituição. Ela tem que passar por um nível de já ter bem pesquisada, uma cotação boa. Então isso ajuda muito, não precisa ter uma enlouquecida como eu buscando dinheiro no mundo inteiro. Isso é um ponto crucial. Por que no Brasil não tem isso? É só fazer uma triagem das ONG’s sérias que elas vão receber dinheiro e crescer cada vez mais! O Greenpeace tem milhões de doadores no mundo inteiro. Eu quero que o Renascer vire um Greenpeace na área social. O não reconhecimento público do trabalho, sem prêmios e divulgação, também dificulta.
 
Como funciona o trabalho voluntário na sua instituição? Quem tem algum tempo livre e muito boa vontade pode se candidatar?Marcílio Teixeira Marinho Filho, Rio de Janeiro, RJ

No Renascer, nós somos um tripé. Tem o Hospital da Lagoa, e tem duas sedes, perto do hospital, para não haver dificuldade das pessoas acessarem. Uma vez por mês os voluntários se inscrevem para participar. A gente faz uma reunião com eles e, antes disso, verificamos, entre as várias áreas: financeira, administrativa, comunicação, área direto com as famílias, recreação no hospital, recreação dentro da sede, voluntários para a profissionalização das famílias. Como eu tenho muito voluntário aqui uma determinada área às vezes não quer mais voluntários, mas esse candidato pode participar ajudando em outra área até vagar na que ele quer novamente. Nossos voluntários são muito fiéis. Tem voluntário que praticamente começou aqui, há 16 anos. Elas geralmente tem entre 30 e 60 anos, a maioria mulheres. Jovens são poucos. Às vezes vêm nas férias, mas geralmente de outros países. Lá eles fazem fila, porque para se formar eles têm que prestar um número de horas de serviços voluntários. E quem ajuda vem em média uma ou duas tardes por semana. Mas tem quem trabalhe de casa, depende da área.
Outra coisa que estou vendo que mais traz recursos e mobiliza a sociedade civil é ser padrinho. Para isso, você se inscreve e diz que quer doar uma quantia por ano, acima de 30 reais. Aí você recebe um carnê para pagar um valor e receber, a quatro meses, você vai receber um relatório sobre as áreas, como casa, auto-estima da mãe, doença da criança, irmãos de cada família. Você recebe um ímã de geladeira com a foto da família e, se quiser conhecê-los, tem que vir aqui para conhecê-los.
 
Como a senhora está trabalhando para garantir que o Saúde Criança Renascer seja uma instituição perene e sustentável a longo prazo? Rene Martins, Rio de Janeiro, RJ

Esse tem sido meu foco de vida agora. Há duas formas. Um é fazer um fundo patrimonial para a Renascer. Porque o problema das organizações sociais é que hoje elas têm um patrocinador, mas depois aquele patrocinador migra para outro projeto e aquele trabalho morre. O que acontece nos EUA? Lá, o Parque de Boston tem um fundo patrimonial. Uma mulher que cuida de quarenta crianças autistas tem um fundo de 3,5 bilhões de dólares. O MoMa, o museu, tem um fundo patrimonial. As universidades também. Eles são organizados. Quanto mais sólidas as instituições, mais sólido o país. O que vai ficar perene são as instituições, que estão acima das pessoas. Então me dei conta de que tinha de criar um fundo patrimonial para o Renascer num país que não tem cultura disso. Como? Porque nos EUA e na Europa as pessoas doam para as instituições que elas acreditam, para a escola que elas estudaram, para o museu que visitam. Aqui no Brasil as pessoas não doam nem para a atividade em si, quanto mais para um fundo patrimonial. Mas como o Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, faz parte do nosso conselho, temos um conselho poderoso com membros muito conscientes, já existe o fundo patrimonial do Renascer. Quem quiser doar online vai poder, mas tem que esperar um pouco, porque o site ainda não está pronto. Mas quem quiser já pode ligar.
Os funcionários sempre vão ter que fazer captação de recursos mas, em alguma eventualidade, a instituição não vai morrer porque houve uma migração de patrocinadores para outros projetos. E tem o Chiquinho, que já é 13% da nossa renda. Já temos um quiosque para vendê-los, doado de graça no Shopping Rio Sul. Mas precisamos de mais. Para aumentar a sustentabilidade perene do Renascer.
 
Como nós, cidadãos comuns, podemos ajudar a melhorar a saúde do país? Iracema Fanzeres, Rio de Janeiro

Se engajando em organizações sérias na área de saúde. Entre no nosso site (www.criancarenascer.org.br) e você vai ver que já existem várias.



Sou médica e constato que quanto mais graves são as patologias, mais intensos são os tratamentos pela sua complexidade. Com isso, percebo muitas vezes que as condições nutricionais e emocionais das crianças se agravam após o tratamento. Como melhorar as condições desses pacientes nessa situação? Existe acompanhamento domiciliar? Graça Dantas Oliveira, Campinas, São Paulo

Existe acompanhamento domiciliar sim. Dependendo do hospital onde ela trabalhe, ela tem de tentar que ele tenha a mesma missão e autonomia do Renascer. É preciso que o lugar em que você trabalhe tenha uma atuação intersetorial. A gente faz sim visita familliar, a família vem uma média de duas a três vezes por mês no Renascer. Uma nutricionista pesa a criança, dá orientações, acompanhamos de perto no pós-hospitalar, inclusive domiciliar. Até para ver como a situação está lá. No início do tratamento, no meio e, às vezes no final. Mas não é toda hora, porque não há dinheiro para isso. Mas temos um psiquiatra voluntário, uma psicóloga contratada com mais seis voluntárias que a apóiam, uma nutricionista, quatro assistentes sociais, advogados e engenheiros e arquitetos que vão à casa melhorar a moradia.

Recentemente, houve várias denúncias de contratos fraudulentos do governo com ONGs. A senhora acha que isso prejudica o seu trabalho? Cássio Souza da Silva, Belém, Pará

De uma certa forma você tem razão. Mas não é bem isso que prejudica. Eu acho que as ONGs corruptas têm que ser denunciadas, mas o que prejudica é a não-divulgação das ONGs seríssimas que esse país tem. O brasileiro tem uma visão ruim de ONG. Cabe à mídia mostrar as exemplares.
Hoje o paciente dá entrada no Hospital Geral, é internado e depois encaminhado para acompanhamento ambulatorial. Penso que o caminho deveria ser o inverso: o paciente deveria ter um atendimento digno no ambulatório e, se necessário, seria encaminhado ao Hospital. O modelo atual tem um custo muito alto para o Estado. Pior: o paciente recebe este tratamento como se fosse um privilégio, e não um dever do Estado. Como resolver esse problema? Benedito Aparecido Dias, Campinas, São Paulo
Concordo plenamente. As ações ambulatoriais têm muito foco quando o paciente está doente. O SUS é uma estrutura maravilhosa, conhecida mundialmente como algo de vanguarda. É o Sistema Universal de Saúde. O problema é a execução. O paciente que não é internado. A medicina preventiva no nosso país não tem foco! Quando eu passo informações para adolescentes sobre gravidez ou outros grupos sobre AIDS, eu estou fazendo medicina preventiva. Nos hospitais deveria haver cada vez mais educação para a saúde, uma ênfase nos pacientes externos, na promoção da saúde do que no combate à doença. Médico entende muito de doença, mas não entende de saúde. Os próprios médicos são muito doentes. No mundo oriental é o contrário: o médico ganha pela quantidade de pacientes que ele deixou de atender. Deveria haver voluntários nos hospitais públicos. Eu tento decodificar a medicina e mostrar que um cidadão comum pode trabalhar para a promoção da saúde, mesmo não sendo médico.
 
Como fazer para que a comunidade carente de Salvador seja beneficiada por seu projeto? Perola Souza, Salvador, Bahia
Entre em contato com a Cláudia Balbuena, responsável no Renascer pela replicação do modelo, no (21) 2266-1446, ramal 25
 
O que a incentiva a continuar com o projeto de dar assistência a essas crianças que precisam de ajuda? Renato da Silva Cavalcanti, Caruaru, Pernambuco

É eu perceber que tudo que a gente fala como nossa missão em nosso site, com nossos cinco critérios de alta, com pelo menos um dos membros da família ganhando salário mínimo, a saúde da criança estável, todas as crianças na escola, todos os documentos em ordem e moradia recente. Quando eu vejo tudo isso acontecer e vejo as pessoas emocionadas com a mudança de patamar de qualidade de vida eu me animo a continuar lutando.
 
Como a senhora avalia o trabalho da Ashoka? Sérgio Coutinho, Maceió, Alagoas

Eu acho a Ashoka uma das maiores instituições em termos de seriedade, de credibilidade, de eficiência do mundo. Eu conheço hoje em dia muitas organizações sociais e a Ashoka foi a primeira no conceito de empreendedorismo social. A Ashoka ajuda as empresas nos vários estágios em que ela está.
Eu não gosto muito desse nome ONG, porque você define uma coisa pelo que ela não é. Prefiro “Organizações da Sociedade Civil”. E também não gosto de terceiro setor. É setor cidadão. Um país é forte quando tem uma sociedade civil pulsante e forte, assim como o governo e os empresários. E que se interconectem. Uma frase do Stephan Schmidheiny, presidente da Avina, que é outra instituição que ajuda empreendimentos sociais, diz: não existem empresas de sucesso numa sociedade falida. Os empresários, até para o lucro das empresas, precisam se conectar com as instituições sérias do país. Não existe esse conceito de as que dão lucro e as que não dão. No fundo, uma ação social tem que ser híbrida. Vai ter que ser capaz de, aos poucos, promover seu auto-sustento. E as empresas têm que gerar empregos, vender seus produtos, mas transformar a sociedade sim.
 
O problema da pobreza ficou sendo do governo. “Ah, mas eu já pago imposto, já faço minha parte”. Não, não é suficiente. Mesmo nos países de primeiro mundo, onde as pessoas pagam imposto e trabalham na área social. Existe uma cultura de voluntariado! Por que aqui essa cultura não pode existir?
Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI3257-15228,00.html

Mães antes da hora


Uma em cada dez estudantes engravida antes dos 15 anos. No Brasil, a taxa de fecundidade só cresce entre as adolescentes

PALOMA COTES, CARLA ARANHA E DANIELA BARBI, COM MARCO BAHÉ E RAFAEL PEREIRA

Otávio Dias de Oliveira/ÉPOCA
Otávio Dias de Oliveira/ÉPOCA  


''Eu achava que tudo o que meus pais falavam era bobagem. Agora, entendo o que eles diziam'' FAIOLE MARTINS PINTO, 16 ANOS, estudante.

A pesquisa Juventudes e Sexualidade, da Unesco, traz uma cifra espantosa:uma em cada dez estudantes engravida antes dos 15 anos. Isso significa que a adolescente brasileira tem mais probabilidade de engravidar (acontece com 14%) do que se formar numa faculdade (hoje, só 7% das mulheres possuem diploma de curso superior, segundo o IBGE). Entre as garotas com menos de 19 anos, a proporção de grávidas cresce desde a década de 70, ao contrário do que ocorre em todas as outras faixas etárias. Só no Estado de São Paulo, nos últimos cinco anos, nasceram cerca de 650 mil crianças da barriga dessas meninas-mães, mais que a população de uma cidade como São José dos Campos. As adolescentes são responsáveis por quase 20% dos bebês paulistas.
Em maior ou menor grau, todas essas jovens deixam sonhos de lado para assumir uma responsabilidade grande demais para sua idade. Há seis meses a paulistana Faiole Martins Pinto, de 16 anos, trocou as baladas pelas fraldas. ''Antes, eu achava bobagem tudo o que meus pais falavam. Agora, entendo'', afirma. Faiole não abandonou a escola nem precisou trabalhar, problemas que acometem a maioria das mães adolescentes. Mas abriu mão das amigas e da liberdade de viver com o namorado, de 19 anos, que ficou desempregado. Sem dinheiro, Faiole voltou a morar com os pais.

Em dez anos, a parcela de grávidas da classe média cresceu 34%
O fenômeno se espalha por toda a pirâmide social. Famílias que ganham até um salário mínimo per capita concentram 65% das adolescentes grávidas - quase a metade delas no Norte e Nordeste, as regiões mais pobres do país. Dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), instituto de saúde pública do Rio de Janeiro, mostram que 70% dessas mães ficarão desempregadas depois. ''A mãe adolescente pobre vai perpetuar a pobreza. É uma armadilha contra o desenvolvimento'', diz o economista Marcelo Neri, da Fundação Getúlio Vargas. Na classe média, a gravidez inesperada atrapalha os estudos da jovem, suas perspectivas de carreira e de relacionamentos futuros (a relação que originou a gravidez quase nunca dura). Quando a gravidez prossegue, o bebê também pesa nos ombros dos avós - no mínimo, como uma bomba sobre as finanças familiares. Calcula-se que criar um filho de classe média, estudando em escola particular, custe R$ 420 mil, do nascimento aos 21 anos. E a avó acaba sendo requisitada para cuidar da criança, justamente na hora em que o esforço para criar os filhos parecia próximo do fim.

 
Mirian Fichtner/ÉPOCA
''Eu dizia que nunca ia fazer uma burrice dessas''
NAYARA FERREIRA, 17 ANOS (no centro), estudante e irmã de Luana, que foi mãe de Maria Eduarda (à dir.) aos 14 e agora espera o segundo filho
O que mais espanta nas estatísticas, porém, é como tem crescido a proporção de adolescentes grávidas em famílias abastadas, com acesso a informação, orientação médica e anticoncepcionais. O número de nascimentos só não é maior por causa dos abortos, feitos em clínicas clandestinas. Mesmo assim, em dez anos, a participação das garotas de classe média entre as grávidas aumentou 34% e já se reflete na rede de saúde particular. Nesse período, os partos de adolescentes no Hospital São Luiz, uma das maiores maternidades de São Paulo, quadruplicaram.
Esses jovens pais e mães estudam em colégios privados e crescem num ambiente em que se ouve falar de sexo seguro abertamente - quando não na sala de jantar, ao menos na TV e nas revistas. ''O pai compra um ótimo livro sobre sexualidade para o filho, com a maior boa vontade, e acha que já fez tudo'', diz a psicóloga Patrícia de Souza. É uma questão que afronta as soluções óbvias. Ao contrário de gerações anteriores, os jovens de hoje são bombardeados pelas campanhas publicitárias e pela educação sexual no colégio. Mas é surpreendente como velhos tabus e fantasias ainda os confundem. ''Em pleno século XXI, muitas garotas crêem que não há perigo de engravidar na primeira transa'', diz a psicanalista carioca Marilyn de Oliveira, que assessora escolas particulares. Infelizmente, nessa idade, a chance de engravidar com uma única relação sexual, na semana que antecede a ovulação, é de 20% - uma em cinco, risco maior que o de levar um tiro num apertar de gatilho de roleta-russa (que é de 17%). Os garotos, por sua vez, se recusam a usar camisinha na primeira relação sexual (e nas outras também). ''O menino tem medo de broxar com o preservativo. E as meninas têm medo de insistir para que ele use a camisinha'', diz Albertina Duarte, coordenadora do Programa de Atendimento Integral à Saúde do Adolescente.

#Q:Mães antes da hora - continuação:#
A mulher só está fisicamente pronta para ser mãe aos 19 anos

Se a camisinha é desprezada, a pílula, nem se fala. Mesmo quem conhece os métodos de prevenção os utiliza de forma precária. ''Eu não tomava pílula porque tinha medo de engordar. Usava camisinha. Quando não tinha, partia para a pílula do dia seguinte. Mas ela não é 100% segura'', diz a estudante Paula Andreotti, de 20 anos, que engravidou aos 17. De fato, tomada até 24 horas depois da relação sexual, ela tem 95% de eficácia. Mas, se usada repetidamente, a pílula perde a eficácia. Paula estava decolando na carreira de modelo e, ao descobrir a gravidez, teve de rasgar um contrato para desfilar em Milão. Passou nove meses rejeitando o bebê. ''Na faculdade, usava roupas largas para esconder a barriga e não conversava com ninguém'', conta. ''Tinha medo de ficar gorda e com o peito caído depois do parto'', lembra. O temor faz sentido. ''Uma mulher está pronta para parir a partir dos 19 anos, idade em que o corpo e os ovários estão maduros'', diz o ginecologista Alberto D'Auria, do São Luiz. Antes disso, quanto mais nova for, mais riscos corre - inclusive os estéticos. Nessa idade, os picos de hormônios aumentam a propensão a estrias.

Otávio Dias de Oliveira/ÉPOCA
''Eu não usava anticoncepcional sempre.
Só camisinha ou a pílula do dia seguinte''

PAULA ANDREOTTI, 20 ANOS,
estudante, mãe aos 17

Como as mães mais velhas, elas também precisam adaptar seu estilo de vida. Adeus baladas, festas, namoros e vida social agitada. ''Dá uma sensação de que o tempo está passando e você ficando para trás'', explica a engenheira industrial Ana Carolina Senaga, mãe aos 17 anos. ''Perdi todos os anos de minha adolescência. Não dava para dormir fora nem viajar sozinha. Tudo o que você faz, depois que o filho nasce, tem de ser a dois: você e ele'', conta. Hoje, aos 27, ela quer aproveitar a vida. Não é fácil. Segundo essas mães, arrumar um namorado fica complicado. Os homens não costumam ser compreensivos com mulheres nessa situação. E os níveis de exigência delas crescem. ''Não é todo o mundo que entende'', conta Ana Carolina, que está engatando um novo relacionamento. ''Antes de se apaixonar por mim, já aviso que tem de gostar do Kainan. E, se ele não gostar do sujeito, eu também não namoro'', reforça Paula.

Boa parte das adolescentes engravida num momento em que está questionando seu lugar na sociedade. ''Nesse período da vida, há o desejo inconsciente e muitas vezes ambivalente de se afirmar como mulher sexualmente ativa e como mãe'', diz a pediatra Evelyn Eisenstein. ''Mesmo sem se dar conta disso, as garotas tentam compensar insatisfações e tristezas buscando um objeto de amor, que pode ser um filho, para preencher um sentimento de vazio interior'', explica. Entre muitas jovens pobres, a gravidez também é considerada sinal de status, lembra o ginecologista Amaury Mendes. ''A adolescente deixa de ser vista como filha pela comunidade, para virar mãe, e é mais respeitada por isso'', diz. A recifense Márcia da Silva, caçula da família, desde pequena cuidou dos sobrinhos. Engravidar virou seu projeto de vida. Era sinônimo de maturidade e libertação. ''Eu queria ter meu próprio filho e ser respeitada'', conta. Aos 13 anos, Márcia envolveu-se com um rapaz oito anos mais velho. A gravidez veio em seguida. Um ano depois, alçada à condição de mulher adulta pela comunidade, Márcia largou o namorado e ganhou liberdade para usufruir sua sexualidade, embora ainda seja sustentada pelos pais. ''Antes, não me deixavam nem sair para as festas. Agora que não devo mais nada a ninguém, quero conhecer outros garotos'', diz, contrariando a lógica que permeia a vida de mães adolescentes do Sudeste. É um caso típico de ''mito da Cinderela''. ''Como nos contos de fadas, elas acreditam estar assegurando seu futuro através de um príncipe encantado, um provedor'', diz a especialista em terapia familiar pela Universidade Federal de Pernambuco e pediatra Maria das Graças Pires. Mas, nesses contos de fadas, dificilmente há final feliz. Em geral, os rapazes caem fora quando a gravidez começa a transformar o corpo das adolescentes. Cerca de 72% delas acabam ficando mesmo na casa dos pais - e, dali em diante, com dificuldades para arranjar namorado permanente.
Mãe há cinco meses, Silvia, de apenas 11 anos, sonhava com um lar e uma família quando começou a transar com o namorado, quatro anos mais velho. Ao saber da notícia, o rapaz mudou de bairro. Silvia deixou a escola e trabalha como garçonete. ''Pensei em tirar o bebê, mas minha mãe disse que agora eu tinha de assumir'', conta. Mais sorte teve a carioca Luiza Barbosa, que engravidou aos 14 anos, do primeiro namorado. O relacionamento durou menos de um mês após o parto. Mas a família de Luiza não teve dificuldade para acolher mais um no confortável apartamento. Sempre com a mãe por perto, a menina só interrompeu a escola por 40 dias e amamentou até os seis meses. Atualmente, aos 20 anos, cursa Medicina. Também vai à praia, a boates e sai com os amigos. ''Devo isso a minha mãe'', diz Luiza, que sabe bem que é uma exceção.

Alexandre Belem/ÉPOCA
''Antes, não me deixavam fazer nada. Não podia nem sair para as festas. Agora que sou mãe, não devo mais nada a ninguém''
MÁRCIA DA SILVA, 14 ANOS, mãe aos 13 anos, sustentada pelo pai

Costuma-se sugerir que os filhos de adolescentes terminam rejeitados e problemáticos. Isso não é necessariamente verdade. Muitas mães precoces se adaptam bem ao novo papel. ''No momento do parto, entendi o significado da palavra mãe. E que meu filho não tinha culpa de nada'', diz Paula sobre Kainan, hoje com 2 anos. ''Ele é tudo para mim'', orgulha-se. Mas pesquisas feitas em São Paulo mostram que outros problemas acontecem. Mães prematuras tendem a ter outro bebê até três anos depois. No Estado, em 1998, foram feitos 45 mil partos de adolescentes que estavam na terceira gravidez. ''Após o primeiro filho, as jovens estão sem perspectiva de trabalho. Se arrumam um namorado, ficam inseguras e não têm coragem de pedir camisinha'', explica Albertina. Outro problema é que as histórias tendem a se repetir dentro das famílias. ''Tenho pacientes bisavós aos 55 anos'', conta o ginecologista Valdir Tadini, da Comissão Estadual da Saúde do Adolescente de São Paulo. Isso ocorre porque os filhos da mãe adolescente acabam seguindo seu exemplo. ''O filho cresce imaginando que a própria vida também não vai ser transformada se for pai ou mãe mais cedo'', diz Tadini.

Cerca de 72% das grávidas acabam morando com os pais

Dentro da casa dos Ferreiras, formou-se uma escadinha. Luana Ferreira, que foi mãe aos 14 anos, viu a história se repetir com a irmã Nayara, que está grávida. Hoje aos 17, Luana diz que ter um filho cedo não mudou sua rotina: ''Sempre tive espírito maternal''. Hoje, aos 19, concilia a segunda gravidez com a faculdade. Já a irmã se ressente. ''Foi um choque para mim'', diz, culpando o ginecologista. ''Quando comecei a namorar, o médico recomendou que eu esperasse a próxima menstruação antes de tomar anticoncepcionais, mas não me orientou sobre o que fazer nesse meio tempo.'' O histórico similar não as fez seguir o mesmo caminho. Luana vive com o pai de seus filhos desde os 12 anos e é uma exceção dentro do quadro nacional. Nayara não sabe se terá futuro ao lado do namorado. ''Estamos juntos há apenas três meses. Não sei se temos a ver'', diz.

Eduardo Monteiro/ÉPOCA

''Depois do filho, amadureci e passei a me cuidar mais. Mas não sou mais livre para fazer o que quero. É como se tivesse sempre uma corrente no meu pé''

LUIZA BARBOSA, 20 ANOS, estudante, mãe aos 14

Gravidez na adolescência é uma questão séria, que precisa ser encarada pelos governos. Pioneiro na implementação de políticas públicas para o jovem, o Estado de São Paulo começa a colher os frutos dessas iniciativas após 16 anos de batalha. Uma delas é a Casa do Adolescente, onde são dadas orientações sobre sexualidade e tanto meninas quanto meninos são atendidos por dentistas, nutricionistas, psicólogos. ''Não recebemos só jovens carentes. A classe média também nos procura'', diz Albertina, uma das coordenadoras do programa. Ali, adolescentes grávidas aprendem a cuidar do bebê, têm uma creche para crianças de até 2 anos - intervalo de tempo necessário para que as jovens recuperem a auto-estima, estudem, arranjem um emprego. O trabalho é preventivo, com oficinas de discussão com parentes dos jovens pais.
Na contramão do país, o Estado de São Paulo conseguiu reduzir a gravidez prematura. Em seis anos, o porcentual de adolescentes que engravidam novamente caiu de 40% para 15%. No mesmo período, o número de partos entre mães de 10 a 19 anos encolheu 21%. Nos últimos três meses, a Casa do Adolescente distribuiu 200 mil preservativos. Parece pouco, mas já é um bom começo

Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI43004-15228,00-MAES+ANTES+DA+HORA.html
Saúde



21/07/2009 - 11:35COMPARTILHAR IMPRIMIR Estados Unidos


DSTs e gravidez na adolescência tiveram alta nos anos Bush


A taxa de gravidez na adolescência e o número de casos de DSTs (doenças sexualmente transmissíveis) entre jovens aumentaram nos anos do governo Bush, revelou uma pesquisa do Centro de Controle de Doenças (CDC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos. Segundo o relatório da maior agência estatal de saúde, as estatísticas pioraram nos últimos anos - embora estivessem apresentando melhora antes do mandato republicano.
De acordo com reportagem do jornal britânico The Guardian, a pesquisa descobriu que a quantidade de mães adolescentes vinha caindo desde 1991, mas, a partir de 2005, registrou um drástico crescimento em mais da metade dos estados americanos. As estatísticas também indicam que o número de meninas adolescentes com sífilis teve uma alta de quase 50%, enquanto que o número de meninos com Aids praticamente dobrou.
O CDC ressaltou que as mais altas taxas de DSTs e gravidez na adolescência foram observadas nos estados do sul do país, onde a questão da abstinência sexual e a religião têm maior ênfase. "É desanimador que, após anos de melhoras no que diz respeito à gravidez na adolescência e a doenças sexualmente trasmissíveis, nós agora vemos que o progresso está estagnado ou que muitas dessas tendências estão indo na direção errada", disse Janet Collins, diretora do CDC.
O relatório não apontou nenhuma causa para tal resultado, mas grupos a favor de uma melhor educação sexual entre os jovens culparam a o fracasso das políticas conservadoras implementadas pelo ex-presidente George W. Bush.

Fonte:http://veja.abril.com.br/noticia/saude/dsts-gravidez-adolescencia-tiveram-alta-anos-bush

Conteúdo sensual da TV desperta gravidez na adolescência--estudo

03 de novembro de 2008


A exposição a algumas formas de entretenimento exerce influência corruptora sobre crianças e adolescentes, aumentando a incidência de gravidez entre jovens que assistem a programas contendo sexo e levando crianças que jogam videogames violentos a adotar comportamentos agressivos, disseram pesquisadores dos Estados Unidos nesta segunda-feira.
Pesquisadores da organização RAND disseram que seu estudo de três anos é o primeiro a vincular a programação sensual de canais de TV a comportamentos sexuais de risco entre adolescentes.
"Nossas descobertas sugerem que a televisão pode exercer um papel significativo nos altos índices de gravidez adolescente nos EUA", disse a cientista comportamental Anita Chandra, que chefiou a pesquisa da RAND, uma organização de pesquisas sem fins lucrativos.
Os pesquisadores recrutaram adolescentes de 12 a 17 anos e os pesquisaram três vezes entre 2001 e 2004, perguntando sobre seus hábitos como telespectadores, seu comportamento sexual e gravidez.
Os resultados abrangem 718 adolescentes, entre os quais houve 91 gravidezes. Os 10 por cento dos adolescentes que assistiram aos programas com mais sexo apresentaram o dobro do risco de engravidar ou causar uma gravidez, comparados aos 10 por cento que assistiram a menos programas desse tipo, segundo o estudo publicado no periódico Pediatrics.
O estudo focou 23 programas de TV aberta e a cabo populares entre adolescentes, incluindo sitcoms, dramas, programas de realidade e desenhos animados. As comédias tinham o maior teor sexual, e os programas de realidade, o menor.
"O conteúdo de TV que vemos raramente destaca os aspectos negativos do sexo, seus riscos e responsabilidades", disse Chandra. "Portanto, se os adolescentes estão recebendo informações sobre sexo, raramente recebem informações sobre gravidez ou doenças sexualmente transmissíveis."
Os índices de gravidez na adolescência caíram nos EUA desde 1991, mas ainda são altos comparados a outros países industrializados.
As mães adolescentes têm probabilidades maiores de abandonar a escola, precisar de assistência pública e viver na pobreza.
De acordo com Chandra, a televisão é apenas uma das influências da mídia sobre o comportamento dos adolescentes. "Devemos analisar também o papel das revistas, da Internet e da música na saúde reprodutiva dos jovens."
Um segundo estudo publicado no periódico acrescentou novas provas às evidências já existentes de que os videogames violentos favorecem o comportamento físico agressivo de seus jogadores adolescentes.
Pesquisadores dos EUA e Japão avaliaram mais de 1.200 japoneses e 364 norte-americanos, de 9 a 18 anos, e constataram "um risco significativo de comportamento físico agressivo posterior ... em culturas muito diferentes."
Fonte:http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,conteudo-sensual-da-tv-desperta-gravidez-na-adolescencia-estudo,271580,0.htm

LEIA A MATÉRIA PUBLICADA NO JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO

Maternidade inesperada


O apoio da avó, em casos de gravidez precoce, pode ser muito benéfico, mas depende de como é conduzido
 
Quando a gravidez acontece na adolescência, não adianta culpar nem condenar os responsáveis: a falta de maturidade requer o apoio dos familiares, especialmente da mãe. O suporte e as orientações da avó são fundamentais para cumprir os desafios da maternidade precoce. Esse drama, vivido por milhares de famílias, é retratado, inclusive, na novela A Favorita, da TV Globo, pelas personagens Mariana (Clarice Falcão), a filha, e Catarina (Lilia Cabral), a mãe.
O consultor em educação sexual e autor do livro Adolescente: um Bate-Papo sobre Sexo (Editora Moderna), Marcos Ribeiro, reforça a necessidade de "educar para as novas responsabilidades". "Esse aprendizado é importante para que o jovem casal entenda que não está brincando de casinha." Mas isso não quer dizer que os pais devam assumir as responsabilidades dos adolescentes.
"A mãe pode ensinar à sua filha como cuidar de si e do bebê, como um exercício. E, em seguida, pedir para a garota fazer a tarefa e deixar claro que a partir de cada lição ela será responsável pela execução", comenta Marcos. "A mãe deve lembrar que está ensinando, e que aquele compromisso com o bebê é da filha e do pai da criança."
Nada impede, porém, que a avó conviva bastante com a criança. "Esse convívio pode trazer grandes benefícios tanto para a criança como para a avó. Mas tal situação deve ser bem administrada, com os limites necessários e respeitando o papel de cada um, o que pode ser resolvido por meio de conversa", aconselha. "E mesmo sendo adolescentes, os avós devem respeitar os pais da criança. Não devem desautorizá-los diante do netinho."
O psicólogo especializado em relacionamentos, Alexandre Bei, reforça que é importante não condenar nem menosprezar a jovem. "Ela ainda não é adulta e precisa muito do apoio e do afeto dos pais", pondera. "O melhor é a avó participar do processo, sem julgar."
Já a psicóloga Magdalena Ramos, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), tem um ponto de vista diferente. Com o pediatra Leonardo Posternak, escreveu o livro E Agora, o que Fazer? (Ágora), sobre a arte de criar filhos. "Uma adolescente ainda não tem maturidade suficiente para criar um filho, não se amadurece por decreto", exclama. "E se fosse fazer isso, teria que parar de estudar e trabalhar. Acho que a avó deve ajudar o máximo possível para que a filha possa continuar estudando. Após alguns anos, quando aprender a caminhar com as próprias pernas, talvez possa assumir a situação plenamente."

 
Avós precoces
A jovem avó Silvia Nunes Telles, de 36 anos, foi pega de surpresa quando sua filha Tamires, na época com 16 anos, engravidou. "No começo, fiquei em choque. Minha preocupação era que ela continuasse os estudos", lembra. O pai de Tamires ficou tão bravo que não quis mais falar com a filha, só há pouco tempo retomaram o relacionamento.
Silvia nem bem teve tempo de se estruturar e teve novas surpresas: Tamires ficou doente, com caxumba. "Dei todo o apoio", conta. "A maior preocupação passou a ser a doença, mas felizmente ela se recuperou bem." Cuidou da filha, forneceu todas as orientações, a acompanhou no pré-natal e comprou roupinhas para a pequena Beatriz, que hoje tem 1 ano e 6 meses.
O pai da criança, de 19 anos, sugeriu que Tamires fosse morar com ele, mas Silvia a desaconselhou por causa do temperamento instável do rapaz. E insistiu para que Tamires continuasse estudando: ela só parou de ir à escola por um mês. "Eu e as amigas dela ajudamos nos trabalhos escolares e ela passou em tudo. Agora está no terceiro ano do ensino médio", conta.
Hoje, aos 18 anos, Tamires continua morando com a mãe, o padrasto e os irmãos. "Nosso relacionamento é muito bom." Há pouco mais de um mês, voltou a trabalhar com telemarketing durante o dia, e continua estudando à noite. Pensa em fazer faculdade de administração. "No começo, acho que minha mãe pensou sobre o que os outros iriam dizer, depois tirou de letra", conta.
A história da contadora Lucia Morita, de 45 anos, envolveu dissidências familiares. Sua filha única, Andressa, ficou grávida aos 18 anos, na época em que morava com a mãe, a avó e as tias maternas. À primeira suspeita de gravidez, Andressa se abriu com a mãe. "Fui com ela fazer o teste", lembra Lucia. "Ela chorou muito, ficou muito preocupada com o futuro. Falei que o importante era cuidar da própria saúde e do bebê, o resto tinha menos importância."
Lucia encarou com tranqüilidade a notícia. Apesar de a gravidez não ter sido planejada, apoiava o namoro da filha com o pai da criança. Estavam juntos há poucos meses, mas se conheciam há anos. Desde o princípio, ele assumiu suas responsabilidades. "É engraçado que tinha acabado de fazer um plano de saúde. Ofereceram uma opção que incluía o serviço de maternidade, e eu falei que era muito jovem para ser avó. E foi o que aconteceu", diverte-se.
Também ensinou tudo para a filha sobre como cuidar do bebê. Curiosamente, o problema maior de Lucia e Andressa foi com o resto da família. Suas tias não receberam bem a notícia e fizeram uma série de cobranças ao pai da criança. A solução encontrada foi a mudança de Andressa para a casa da família do namorado durante a gravidez. "Sentia muita falta dela e ia visitá-la todos os dias após o trabalho", lembra Lucia.
Hoje seu netinho, Marcelo, tem 2 anos e oito meses. Pouco antes de ele nascer, os pais encontraram uma casa própria. E a convidaram para morar com eles. Ela aceitou. Hoje, trabalha durante o dia, mas curte o neto à noite. Marcelo fica com os avós paternos enquanto os pais trabalham.
Andressa tem hoje 22 anos. Concluiu o ensino médio e voltou a trabalhar quando o filho completou 1 ano e meio. "Foi muito importante ter contado com o apoio da minha mãe."

Fonte:http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,maternidade-inesperada,285861,0.htm

terça-feira, 24 de agosto de 2010

É legal a proibição de celulares nas escolas do Brasil?

Elaborado em 04.2009.
José Antonio Milagre
Pesquisador em cybercultura. Advogado especialista em Direito Digital. MBA em Gestão de Tecnologia da Informação. Professor de Pós-Graduação na Universidade Presbiteriana Mackenzie, SENAC e UNIGRAN. Co-autor do livro "Internet: O Encontro de 2 Mundos" (Brasport, 2008). Colaborador do livro "Legislação Criminal Especial", (org. Luiz Flávio Gomes, RT, 2009).
Vamos a um caso "fictício". Numa escola particular no Estado de São Paulo, duas alunas começam uma briga em sala, a "roda se forma", as meninas caem no chão, em alguns minutos o Professor que estava fora da sala intervém, e as alunas, machucadas, são levados à enfermaria, sendo uma claramente mais ferida, com cortes no rosto e o nariz sangrando.
Esta cena nada teria de "novidade" aos leitores, não fosse um aluno que filmara todo o ocorrido com seu ultra-celular, em altíssima resolução. Publicar na Internet ? Ele vai além, e exige sexo com a adolescente para que o vídeo não seja divulgado. A chantagem é aceita, e mesmo assim o vídeo é divulgado entre os alunos do colégio por meio de comunicação Bluetooth, até que um dia aparece na web. A garota, em estágio depressivo e não agüentando mais toda a pressão, abre o jogo, e conta tudo aos pais, que processam não só os pais do adolescente, mas também o Colégio, por permitir celulares em sala de aula.
Tal caso "fictício", mais que nos chocar pela frieza do adolescente, nos faz pensar sobre um ponto fundamental que é discutido hoje no planeta: o uso de celulares em escolas deve ser proibido?
É mais um debate cujos dois lados têm seus fundamentos consideráveis e convincentes. Por um lado, o uso de celulares com televisores embutidos, câmeras, mp3, pacote de dados vem "acabando" com as aulas, potencializando a distração dos adolescentes; "celular prejudica o aprendizado e a socialização" e por vezes é utilizado com "má-fé"; é comum encontrarmos na Internet professores "tirando caca do nariz", "o close no bumbum da pobre docente que escrevia no quadro" ou "professores fazendo dancinhas estranhas", que certamente não fariam se soubessem que um aluno esperto lhe filmara pari passu. Não se pode esquecer das famosas "colas nas provas", que ficou fácil de serem feitas com estes dispositivos. Games em sala de aula então...
Por outro lado, há a corrente de quem defende que proibir celulares com alunos em sala de aula é "inconstitucional", viola o direito de "ir e vir com seus bens", a dignidade da pessoa humana e o direito pétreo à segurança, considerando que o equipamento pode ser utilizado em muitos casos para afastar riscos ou danos às pessoas ou terceiros. E quando digo segurança, podemos pensar "naquele professor que manda o aluno tomar naquele lugar" em ato completamente descontrolado, ou "aquele professor que impõe um castigo que mais se assemelha à tortura", dentre outros. Com todo respeito à nobre classe dos professores, da qual faço parte, mas sabemos que exceções existem.
Como se verifica, a disputa é boa e as teses bem amparadas! Mas, vejamos como o mundo pensa.
Nos Estados Unidos, a Suprema Corte do Estado de New York proibiu que alunos levassem seus celulares a escolas públicas. A medida foi aprovada pelo Departamento de Instrução do Estado. Os pais protestaram junto à corte, alegando que filhos com celulares é igual a tranqüilidade para pais.
É possível encontrar na Web até opiniões mais ortodoxas, tachando a proibição de celulares nas Escolas de uma "Prática Fascista" [1].
O Governo do Peru também já intenta medida restritiva semelhante [2]. Na Europa, a França discute a proibição de celulares para menores de 12 (doze) anos [3]. A Itália, em 2007, proibiu que crianças usassem celulares em classes após a publicação em novembro de 2006 de um vídeo onde um aluno deficiente era espancado em sala por colegas [4].
Preste atenção: crianças!
Já no Brasil, São Paulo foi o primeiro estado a proibir os equipamentos, com a rápida aprovação da Lei Estadual 12.730/2007, prescrevendo que "ficam os alunos proibidos de utilizar telefone celular nos estabelecimentos de ensino do Estado, durante o horário das aulas".
A Lei foi regulamentada pelo Decreto número 52.625 de janeiro de 2008, que prevê que:
Artigo 2º - Caberá à direção da unidade escolar:
I - adotar medidas que visem à conscientização dos alunos sobre a interferência do telefone celular nas práticas educativas, prejudicando seu aprendizado e sua socialização;
II - disciplinar o uso do telefone celular fora do horário das aulas;
III - garantir que os alunos tenham conhecimento da proibição.
Em seguida, a Prefeitura do Rio de Janeiro, em 2008, promulgou a Lei 4.734, válida apenas para a cidade [5]. No Ceará, a Lei 14.146/2008 vetou o uso de celulares e tocadores MP3 nas salas de aula das Escolas Estaduais. Rondônia também já apresenta legislação promulgada sobre o assunto [6]. Cidades do Interior de São Paulo já adotam a iniciativa, como Piracicaba, que discute o projeto 226/2007 [7]. Outros projetos de nível estadual e municipal sobre o assunto são discutidos em outros Estados.
Alguns pontos merecem destaque na Lei Paulista: a lei só se preocupa com escolas estaduais, o que de certa forma trata iguais de forma desigual. Aliás, se formos pensar bem, é amplamente mais provável que uma escola particular tenha maiores índices de alunos com celulares. Outro ponto é que a lei proíbe alunos – repita-se, alunos – de usarem celulares, sendo que o mesmo não vale para professores. Ora, educação não é um "aprendizado mútuo", ou uma "sinergia de valores" ?
A Lei já é inclusive atacada Judicialmente por Associações de Pais e Alunos Paulistas, como a NAPA [8].
Não bastasse a estranha iniciativa Paulista, no âmbito federal, temos o adiantado Projeto de Lei 2246/2007 [9], que tramita na Câmara dos Deputados, de autoria do Deputado Pompeu de Mattos (PDT-RS). Em breve, se aprovado, todo o país deverá cumprir a lei.
Ao que se conclui de uma interpretação literária, a Lei Federal vedaria o uso de celulares em escolas publicas não só por alunos, mas a princípio por todos, o que é por demais truanesco. Segundo sua justificativa, o objetivo é assegurar "a essência do ambiente escolar". Lindo, não? Outro ponto engraçado é "muitos deixam o celular no modo silencioso e às vezes não resistem: quando recebem uma ligação, atendem sussurrando em voz baixa."
A lei rebate a questão do celular como segurança para alunos se comunicarem com seus pais, alegando que todas as escolas possuem telefones fixos à disposição do aluno. Nossa, quais escolas são estas ?
Cita também o caso da Alemanha, onde no Estado da Baviera o celular foi proibido, justificando o caso de alunos que levavam pornografia aos bancos escolares. A lei não limita a idade da proibição, conquanto somos obrigados a deduzir que o aluno até 17 (dezessete) anos estará proibido, por ser menor, pois seria incrível deduzir que a Lei deve ser aplicada à ambientes acadêmicos, cursinhos, mestrados etc.
Igualmente, não regulamenta o processo de verificação ou punição, e não se pode deixar de cogitar que cada escola poderá estabelecer um "processo" de retenção, punição e devolução dos equipamentos, sempre observando as regras traçadas pelo Poder executivo.
Agora, já pararam para pensar se aquele diretor ou professor revolve "fuçar" nos equipamentos retidos ? Caso nítido de violação de privacidade e em alguns casos violação telemática não autorizada! Não precisa nem "fuçar", mas ter acesso no display a conteúdos privados do aluno. Como custodiar corretamente estes equipamentos? Lamentavelmente, nosso legislador, às pressas, nem sempre pensa nos "dois lados da moeda".
Minha opinião sobre o assunto?
Restringir totalmente os celulares aos adolescentes em quase um terço do tempo de suas vidas é descaracterizar-lhes, agredindo fortemente as premissas que embasam sua geração, a geração do hypertexto, wiki, a geração digital. É hora de pensar as novas tecnologias na escola não como inimigos, mas como ferramentas pedagógicas [10]. Experimente mandar um "Silêncio", via SMS, para seu aluno, mostre que você está lá e sabe o que lá se passa.
Evidentemente, entendo ser mais que absurdo o discente que "atende celular em sala de aula", o "aluno que assiste tv em sala de aula", ou que "fica ouvindo mp3 enquanto o professor está laborando arduamente explicando os conteúdos". Porém, não vejo proporcionalidade na restrição do uso por completo dos equipamentos. Ora, talvez o legislador tenha esquecido que os celulares têm um botão "desliga"! Ou que existe algo chamado "vibracall"! Pronto, não está "em uso"! Diga-se, se o conteúdo da aula lhe envolve emocionalmente, não há toque, ringtone ou vibração que faça o aluno desviar sua atenção.
Trata-se de medida "sem sal" e que não vai ser a grande responsável pelo melhor desempenho dos alunos em sala. E quando aquele professor quiser demonstrar que sabe das leis, e dirigindo-se imponentemente ao aluno pedindo que lhe entregue o celular, vai ouvir em tons garrafais: "Eu estou somente portando um celular, e não usando, logo, não estou infringindo lei alguma!" ou "Prove que meu celular está ligado!".
Alguém duvida ?
Em síntese, entendo que ambas as correntes têm seus prós e contras. Penso, sim, que determinadas condutas de alunos são altamente reprováveis, mas – convenhamos – o Estado tem assuntos mais importantes para fazer do que ficar expedindo leis com 3 (três) artigos. Tal tema bem que poderia ficar à cargo do Regimento Interno das Escolas, como assevera a Lei de Diretrizes e Bases [11]. Assim, as Escolas deverão revisar seus regimentos a respeito das novas tecnologias, com bom senso, e não impondo processos de retenção ou vexatórios.
Sou contra a aprovação às pressas de leis que envolvem tecnologia, sem aprofundados estudos sobre os temas, com oitiva não só de psicólogos, mas dos pais de alunos e demais envolvidos. Tomar por base países de Primeiro Mundo como Alemanha não me parece uma medida mais sensata, eis que é pouco provável que um aluno de lá tenha que fazer um contato às pressas com seus pais, pois a escola está no meio de um tiroteio entre traficantes...
Enfim, preparemo-nos para as "revistas pessoais" antes de ingressarmos nas escolas. Hoje, são os celulares e MP3 que serão proibidos, amanhã serão os DS Wireless [12], e a cada novo dispositivo móvel, mais uma Lei restritiva.
Hoje, começam-se as restrições nas escolas, depois nos cinemas, amanhã em lugares públicos [13], até um dia em que usar celular ou dispositivo móvel, será permitido apenas entre quatro paredes, em demonstração nítida da "era da intolerância", onde "o rigntone do vizinho me causa ira e náuseas!". Pronto, regrediremos à "telefonia fixa-celular".
É preciso que se aprenda, não se pode lutar contra as características de uma geração, não se pode lutar contra tecnologia! A conversação está apenas começando.
Fonte:http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=12716

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