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terça-feira, 10 de novembro de 2015

Vale a pena ler mais uma crônica de Fernando Sabino. Leia e descubra qual o tema abordado.

MENINO DE RUA
Fernando Sabino

Eram dez e meia da noite e eu ia saindo de casa quando o menino me abordou. Por um instante pensei que pedia dinheiro. Cheguei a lhe estender uma nota de dez cruzeiros, ele pareceu surpreendido mas aceitou. Usava uma camisa velha e esburacada do Botafogo, o calção deixava à mostra as perninhas finas que mal se sustinham nos pés descalços. Era moreno, com aquela tonalidade encardida que a pobreza tem. Segurava uma pequena caixa de papelão já meio desmantelada.
- Que é mesmo que você pediu? Não foi dinheiro?
- Uma coberta.
- Uma coberta? Para quê?
- Pra eu dormir.
Realmente estava frio, mas onde ele queria que eu arranjasse uma coberta? O jeito era voltar em casa, descobrir uma coberta velha, trazer para ele. Foi o que fiz: apanhei uma colcha já usada mas ainda de serventia e lhe trouxe. Ele aceitou com naturalidade, sem me olhar nos olhos. Não parecia ter mais de nove anos, mas me disse que já tinha treze.
- Onde é que você dorme?
- Num lugar ali – e fez um gesto vago para os lados da praça General Osório.
- Dorme sempre na rua? Não tem casa?
- Tenho.
- Onde?
- Em Austin.
- Onde fica isso? É longe daqui?
- Não é não. Fica no Estado do Rio.
- Por que você não vai pra casa?
Ele mordeu o lábio inferior, calado um instante, mas acabou respondendo:
- Mamãe me expulsou.
- Por quê? Alguma você andou fazendo.
- Não fiz nada não – reagiu ele, de súbito veemente: - Minha irmã é nervosa, quebrou o vidro da televisão e disse que fui ei. Então minha mãe me expulsou.
- Quando foi isso?
- Tem quase três anos.
- Três anos? E você nunca mais voltou?
- Voltei não.
- Como é que você viveu esse tempo todo? Que é que você come?
- Peço resto de comida.
- Pra que serve esse papelão?
- Pra cobrir o chão de dormir.
- Você tem algum amigo?
- Não gosto de amigo não, que amigo faz trapalhada e a gente é que acaba preso.
O nome dele era Carlos Henrique.
- Volta pra casa, Carlos Henrique.
E fiz uma pequena pregação: mãe é sempre mãe, ela devia estar sentindo falta dele. Melhor em casa que ficar por aí na rua, sem ter onde dormir. A mãe trabalhava em Nova Iguaçu, ele me havia dito, devia viver da mão pra boca, mas ainda era pra ele a melhor solução. Não tinha nem nunca teve pai.
- Você sabe ir até lá?
- Sei. Tomo o ônibus até a Central e lá pego o trem até Austin.
- Então vai mesmo, heim?
Ele prometeu ir assim que o dia clareasse. Para isso dei-lhe mais algum dinheiro e ele se afastou, com sua colcha e seus pedaços de papelão, esgueirando-se pelos cantos como um ratinho.

Não acredito que tenha ido. Certamente continuará rolando por aí mesmo, mais dia menos dia transformado em pivete, se exercitando na prática de pequenos furtos, em que, pelo jeito, ainda não se iniciou. E se por acaso voltarmos a nos encontrar daqui a uns poucos anos, não me resta nem a esperança de que me reconheça e não me mate – pois seguramente, e com justas razões, já estará transformado em assaltante. (SABINO, 1995, p.31-34).

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Estrutura da Notícia




1º Parágrafo - LEAD da notícia: Resume fato que será noticiado. Neste parágrafo, devem ser dadas respostas às perguntas: quem?, o quê?, onde? e quando?
Exemplo:


A menor, Cenira Alvarenga, 10, foi resgatada, na tarde de ontem, de uma mansão no bairro Mangueirão, em Belém, onde era obrigada a realizar serviços domésticos.


2º Parágrafo - Como? Neste parágrafo, deve-se apresentar a explicação para o leitor de como a menina foi resgatada. Exemplo:


A vizinha da patroa de Cenira cansada de ouvir os choros da menina durante a noite, resolveu na tarde de sexta-feira, pôr um fim aos atos de violência de exploração contra a pobre menina, fazendo uma denúncia ao Conselho Tutelar da cidade.


3º Parágrafo - Por quê? Nesse parágrafo, devem-se explicar os motivos que levaram a menina a trabalhar na mansão.


Depois de uma conversa com a garota Cenira, o conselheiro, Raul Pedroso, 39, descobriu que a menina foi trabalhar na mansão, com a promessa de um futuro melhor na capital, que incluía a oportunidade de ir à escola, mas nenhuma promessa foi cumprida pela patroa.


4º Parágrafo: Complemento - Não é obrigatório, apenas completa com informações extras, que nem sempre aparecem numa notícia.


A menina ainda relatou que trabalhava, desde os oito anos,  cumpria a pesada jornada de trabalho diário das 6h da manhã à meia-noite e era impedida de visitar a família.



Procure ler a notícia na íntegra abaixo e perceber os elementos e a estrutura que compõe uma NOTÍCIA.

MODELO DE NOTÍCIA


EXPLORAÇÃO DE MENOR CHEGA AO FIM EM BELÉM


LEAD A menor, Cenira Alvarenga, 10, foi resgatada, na tarde de ontem, de uma mansão no bairro Mangueirão, em Belém, onde era obrigada a realizar serviços domésticos. Sua patroa foi encaminhada à polícia e responderá a processo judicial.


COMO? A vizinha da patroa de Cenira cansada de ouvir os choros da menina durante a noite, resolveu na tarde de sexta-feira, pôr um fim aos atos de violência e de exploração contra a pobre menina, fazendo uma denúncia ao Conselho Tutelar da cidade.


POR QUÊ? Depois de uma conversa com a garota Cenira, o conselheiro, Raul Pedroso, 39, descobriu que a menina foi trabalhar na mansão, com a promessa de um futuro melhor na capital, que incluía a oportunidade de ir à escola, mas nenhuma promessa foi cumprida pela patroa.


A menina ainda relatou que trabalhava, desde os oito anos,  cumpria a pesada jornada de trabalho diário das 6h da manhã a meia-noite e era impedida de visitar a família.

(Texto produzido para fins didáticos pela professora Francisca P.Martins)

domingo, 8 de novembro de 2015

Plano de Aula - Crônica

O que é uma crônica?

A crônica é um gênero literário produzido essencialmente para ser vinculado na imprensa, seja nas páginas de uma revista, seja de um jornal.

Principais características:

  • É um texto curto, que se concentra em um único fato, algo do cotidiano, pode ser um problema social ou um acontecimento banal.
  • Seu tema é ligo à vida cotidiana(um problema social, relações entre as pessoas, fatos corriqueiros, banais, extraídos dos acontecimentos do dia a dia, por mais irrelevante que ele seja.
  • Possui poucos personagens,  apenas aqueles que estarão envolvidos no fato principal que você vai contar.
  • Tem um tempo cronológico curto, isto é, tudo se passa rápido, em um dia, ou menos que isso.
  • Espaço (lugar) reduzido, muitas vezes os fatos se passam num único espaço;
  • Linguagem coloquial na fala das personagens;
  • Pode ter caráter humorístico, crítico, satírico e/ou irônico.
O cronista busca emocionar e envolver o leitor, levando-o a refletir sobre problemas sociais sérios que afetam a sociedade.


Alguns cronistas brasileiros: Fernando Sabino, Rubem Braga, Luis Fernando Veríssimo, Carlos Heitor Cony, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Ernesto Baggio, Lygia Fagundes Telles, Machado de Assis, Max Gehringer, Moacyr Scliar, Pedro Bial, Arnaldo Jabor, dentre outros.

Leia a crônica de Fernando Sabino:




A última crônica 

A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria o meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica. 

Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome. 

Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. 

O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho - um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular. A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim. 

São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: "Parabéns pra você, parabéns pra você..." Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura - ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido - vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso. 

Fonte: http://pensador.uol.com.br/frase/NTE2Njky/



MODELO PARA PRODUÇÃO DO PLANEJAMENTO DO TEXTO NARRATIVO 

GÊNERO CRÔNICA

TEMA: Exploração do trabalho infantil doméstico.

Personagens principais: Cenira (a menina), a patroa e o procurador do Ministério Público do Trabalho.
                   secundários: os pais e os irmãos da Cenira e a vizinha da patroa.

Enredo: A crônica conta a história de Cenira, que, aos 10 anos, saiu do interior do Pará e foi para Belém, com a promessa de um futuro melhor, que incluía estudos na capital. Mas, ao contrário disso, a menina desembarcou do ônibus numa cidade onde não conhecia ninguém foi direto para a casa onde trabalharia, moraria e aprenderia as duras lições da rotina diária de uma empregada doméstica, que trabalhava das 6 horas da manhã até a meia noite, de segunda a domingo.

Narrador:  narrador-observador ( x  )      narrador-personagem  (    )

Tempo: Numa tarde de sexta-feira.

Espaço (lugar em que acontecerá a história): A rodoviária, a casa da patroa de Cenira e o abrigo para crianças.

Aprenda sobre os direitos da Criança e do Adolescente brincando.


Você conhece os Direitos das Crianças? Que tal jogar um game que ensina sobre os seus direitos?

Acesse o link abaixo e  aprenda de uma forma bem divertida sobre os Direitos da Criança e do Adolescente.

A Escola de Games preparou para você um Game sobre o Direito da Criança, clique no link e divirta-se.




As pesquisas deste final de semana também me levaram a um Game desenvolvido pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) em cooperação com a Procuradoria do Trabalho de Campina Grande e pesquisadores do Curso Superior de Tecnologia em Jogos Digitais da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas (Facisa). 
O Game explora diferentes cenários de exploração do trabalho infantil e seu objetivo é a sensibilização e o engajamento das pessoas (crianças, adolescentes e adultos) na luta contra o trabalho infantil.

Clique no link abaixo, jogue e ajude de forma lúdica a tirar as crianças da situação de exploração.


Clique no link para jogar:




sábado, 7 de novembro de 2015

Trabalho Infantil Ontem e Hoje



Vídeo revela a verdadeira história da exploração do trabalho infantil em nosso país.
Assista, comente e dê sua sugestão para combatermos a exploração infantil. Ajude-nos a erradicar a exploração de crianças e adolescentes no Brasil. 


                                  Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=YhTydGNtmSA



Lembre-se: Podemos promover mudanças com nossas ideias:


          


O Direito à Educação, assegurado por lei, mas desrespeitado por muitos!



Malala Yousafzai defendeu o direito à Educação para as meninas do Paquistão e foi baleada, em 2012, pelos homens do Talibã. 

Conheça sua história e o que significa o direito à Educação para uma garota que defendeu com a própria vida o direito de ir à escola:









Clique no link abaixo e confira imagens e dados sobre a situação da exploração da criança no Brasil e no mundo:

Fatos e imagens da exploração do trabalho infantil

Conheça a história de MALALA, a garota paquistanesa que defende a Educação no Paquistão





Discurso de Malala Yousafzai no Prêmio Nobel da Paz, 10 dezembro 2014

Excelentíssimas majestades, ilustres membros do Comitê Nobel Norueguês, queridos irmãos e irmãs, hoje é um dia de grande felicidade para mim. Aceito com humildade a escolha do Comitê Nobel em me agraciar com este precioso prêmio.

Obrigada a todos pelo apoio e amor permanentes. Sou grata pelas cartas e cartões que continuo a receber de todas as partes do mundo. Ler suas palavras amáveis e encorajadoras me fortalece e inspira.


 (...)
Muito me orgulha ter sido a primeira pachtun, a primeira paquistanesa e a primeira adolescente a receber este prêmio. E tenho a certeza absoluta de ser também a primeira pessoa a receber um Nobel da Paz que ainda briga com seus irmãos mais novos. Eu quero que a paz se espalhe por todos os cantos, mas meus irmãos e eu ainda estamos trabalhando nisso.

Muito me honra também dividir este prêmio com Kailash Satyarthi, que vem lutando pelos direitos das crianças já há muito tempo. Na verdade, pelo dobro do tempo que já vivi. Fico feliz também por estarmos aqui reunidos demonstrando ao mundo que um indiano e uma paquistanesa podem conviver em paz e trabalhar em prol dos direitos das crianças.

Queridos irmãos e irmãs, recebi meu nome em homenagem à pachtun Joana D’Arc, Malalai de Maiwand. A palavra Malala significa “enlutada”, “triste”, mas, tentando imbuir um pouco de alegria a ela, meu avô iria sempre me chamar de “Malala — a garota mais feliz deste mundo”, e hoje estou muito feliz de estarmos aqui reunidos por uma causa importante.

Este prêmio não é só meu. É das crianças esquecidas que querem educação. É das crianças assustadas que querem a paz. É das crianças sem direito à expressão que querem mudanças.
Estou aqui para afirmar os seus direitos, dar-lhes voz… Não é hora de lamentar por elas. É hora de agir, para que seja a última vez que vejamos uma criança sem direito à educação.

Tenho percebido que as pessoas me descrevem de várias maneiras.
Algumas se referem a mim como a menina que foi baleada pelo talibã.
Outras, como a menina que lutou por seus direitos.
Outras, agora, como “a Prêmio Nobel”.

No que se refere a mim, sou apenas uma pessoa dedicada e teimosa que quer ver todas as crianças recebendo educação de qualidade, que quer a igualdade de direitos para as mulheres e que quer que haja paz em todos os cantos do mundo.
A educação é uma das bênçãos da vida — e uma de suas necessidades. Essa tem sido a minha experiência pelos dezessete anos em que vivi. Em minha casa, no vale Swat, no norte do Paquistão, eu sempre adorei a escola e aprender coisas novas. Lembro-me que quando minhas amigas e eu enfeitávamos nossas mãos com hena para as ocasiões especiais, em vez de desenhar flores e padrões nós pintávamos as mãos com fórmulas e equações matemáticas.
Tínhamos sede de educação porque o nosso futuro estava bem ali, naquela sala de aula. Nós sentávamos e líamos e aprendíamos juntas. E amávamos vestir aqueles uniformes escolares limpos e bem passados e sentar ali com grandes sonhos em nossos olhos. Queríamos que nossos pais se orgulhassem de nós e provar que poderíamos nos destacar nos estudos e realizar algo, o que algumas pessoas pensam que somente os meninos podem fazer.
Mas as coisas mudam. Quando eu tinha dez anos, Swat, que era um recanto de beleza e turismo, de repente se transformou em um lugar de terrorismo. Mais de quatrocentas escolas foram destruídas. As meninas foram impedidas de frequentar a escola. As mulheres foram açoitadas. Pessoas inocentes foram assassinadas. Todos sofremos. E os nossos belos sonhos se transformaram em pesadelos.
A educação passou de um direito a um crime.
Mas com a mudança repentina de meu mundo, minhas prioridades também se modificaram.
Eu tinha duas opções, a primeira era permanecer calada e esperar para ser assassinada. A segunda era erguer a voz e, em seguida, ser assassinada. Eu escolhi a segunda. Eu decidi erguer a voz.
Os terroristas tentaram nos deter e atacaram a mim e a minhas amigas em 9 de outubro de 2012, mas suas balas não podiam vencer.
Nós sobrevivemos. E desde aquele dia nossas vozes só fizeram se erguer mais altas.
Eu conto a minha história não porque ela seja única, mas principalmente porque não é.
Hoje, eu conto as histórias delas também. Eu trouxe comigo para Oslo algumas das minhas irmãs, que compartilham esta história, amigas do Paquistão, Nigéria e Síria. Minhas valentes irmãs, Shazia e Kainat Riaz, que também levaram tiros comigo naquele dia em Swat. Elas também passaram por esse trauma trágico. Também a minha irmã Kainat Somro, do Paquistão, que sofreu violência e abuso extremos, até mesmo seu irmão foi assassinado, mas não sucumbiu.
E há meninas comigo que eu conheci durante minha campanha do Fundo Malala, que agora são como minhas irmãs. Minha corajosa irmã Mezon, da Síria, de dezesseis anos, que atualmente vive na Jordânia, em um campo de refugiados, indo de tenda em tenda para ajudar meninas e meninos a aprender. E minha irmã Amina, do norte da Nigéria, onde o Boko Haram ameaça e rapta meninas simplesmente por elas quererem ir para a escola.
Embora na aparência eu seja uma menina, uma pessoa com um metro e cinquenta e sete de altura, contando com os saltos altos, eu não sou uma voz solitária, eu sou muitas.

Eu sou Shazia.
Eu sou Kainat Riaz.
Eu sou Kainat Somro.
Eu sou Mezon.
Eu sou Amina.
Eu sou aquelas 66 milhões de meninas que estão fora da escola.

As pessoas gostam de me perguntar por que a educação é importante, especialmente para as meninas. A minha resposta é sempre a mesma.
O que eu aprendi da leitura dos dois primeiros capítulos do Alcorão Sagrado foram as palavras Iqra, que significa “leitura”, e nun wal-qalam que significa “pela caneta”.
Assim, como eu disse no ano passado nas Nações Unidas: “Uma criança, um professor, uma caneta e um livro podem mudar o mundo.”

Hoje, em metade do mundo testemunhamos acelerado progresso, modernização e desenvolvimento. No entanto, há países onde milhões ainda sofrem dos antiquíssimos problemas da fome, da pobreza, da injustiça e de conflitos.
(...)

Ainda há conflitos em que centenas de milhares de pessoas inocentes perdem suas vidas. Muitas famílias passaram a ser refugiados na Síria, em Gaza e no Iraque. Ainda há meninas que não têm liberdade para ir à escola no norte da Nigéria. No Paquistão e no Afeganistão vemos pessoas inocentes sendo mortas em ataques suicidas e explosões de bombas.
Muitas crianças na África não têm acesso à escola por causa da pobreza.
Muitas crianças na Índia e no Paquistão são privadas de seu direito à educação por conta de tabus sociais, ou forçadas ao trabalho infantil e, no caso de meninas, a casamentos infantis.
Uma das minhas melhores amigas da escola, da mesma idade que eu, sempre foi uma menina corajosa e confiante, que sonhava um dia se tornar uma médica. Mas seu sonho continuou a ser um sonho. Aos doze anos ela foi forçada a se casar, tendo um filho logo em seguida, numa idade em que ela própria era ainda uma criança — apenas catorze anos. Eu sei que a minha amiga teria sido uma médica muito boa.
Mas ela não pôde… porque era uma menina.
Sua história é a razão pela qual eu dedico o dinheiro do Prêmio Nobel para o Fundo Malala, para ajudar a dar às meninas de toda parte uma educação de qualidade e convocar os líderes a ajudar meninas como eu, Mezun e Amina. O primeiro lugar para onde esse financiamento será aplicado é lá onde reside meu coração, para construir escolas no Paquistão — especialmente na minha terra natal de Swat e Shangla.

Na minha própria aldeia ainda não existe uma escola secundária para meninas. Eu quero construir uma, para que minhas amigas possam ter uma educação e a oportunidade que isso traz na realização de seus sonhos.
É por lá que irei começar, mas não é por lá que irei parar. Vou continuar esta luta até ver todas as crianças na escola. Eu me sinto muito mais forte depois do ataque que sofri, porque eu sei que ninguém pode me parar, ou nos parar, porque agora somos milhões, lutando juntos.
(...)
Minha grande esperança é que esta seja a última vez que tenhamos que lutar pela educação de nossos filhos. Queremos que todos se unam em apoio a nossa campanha para que possamos resolver isso de uma vez por todas.
Como eu disse, já demos muitos passos na direção certa. Chegou a hora de dar um salto.
Não é mais o caso de convencer os governantes do quão importante é a educação — isso eles já sabem, seus próprios filhos estão em boas escolas. A hora agora é de convocá-los a agir.
Pedimos aos líderes mundiais que se unam para fazer da educação a sua principal prioridade.

Há quinze anos, os líderes mundiais chegaram a um consenso sobre um conjunto de metas globais, os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Nos anos que se seguiram, testemunhamos alguns progressos. O número de crianças fora da escola foi reduzido à metade. No entanto, o mundo se concentrou apenas na expansão do ensino fundamental e o progresso não chegou a todos.

No próximo ano, em 2015, representantes de todo o mundo se reunirão na Organização das Nações Unidas para decidir sobre o próximo conjunto de metas, os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável. Isto irá definir a ambição do mundo para as gerações vindouras. Os líderes devem aproveitar essa oportunidade para garantir uma educação fundamental e secundária gratuita e de qualidade para cada criança.
Alguns dirão que isso é impraticável, ou muito caro, ou muito difícil. Ou mesmo impossível. Mas é hora de pensar grande.

Queridos irmãos e irmãs, o chamado mundo dos adultos pode compreender isso, mas nós, as crianças, não. Por que os países que chamamos de “fortes” são tão poderosos em criar guerras, mas tão fracos em trazer a paz? Por que fornecer armas é tão fácil, mas doar livros é tão difícil? Por que fabricar tanques é tão fácil, mas construir escolas é tão difícil?

(...) Então, neste século, temos de insistir em que o nosso sonho de uma educação de qualidade para todos também se torne realidade.
Por isso deixem-nos levar igualdade, justiça e paz para todos. E não apenas os políticos e os líderes mundiais, todos precisamos contribuir. Eu. Vocês. É nosso dever.
Ao trabalho, então… sem esperar.
Apelo às crianças como eu a levantar-se em todo o mundo.
Queridos irmãos e irmãs, que nos tornemos a primeira geração a decidir ser a última [a ficar fora da escola].
As salas de aula vazias, as infâncias perdidas, o potencial desperdiçado — que tudo isso se encerre conosco.
Que esta seja a última vez que um menino ou uma menina desperdice sua infância em uma fábrica.
Que esta seja a última vez que uma garota seja obrigada a se casar na infância.
Que esta seja a última vez que uma criança inocente perca a vida na guerra.
Que esta seja a última vez que uma sala de aula permaneça vazia.
Que esta seja a última vez que se diga a uma menina que a educação é um crime e não um direito.
Que esta seja a última vez que uma criança permaneça fora da escola.
Que comecemos nós a encerrar essa situação.
Que sejamos nós a dar um fim a isto.
Que comecemos a construir um futuro melhor, aqui, agora.

Obrigada.”


Malala

Fonte:http://www.blogdacompanhia.com.br/2014/12/discurso-de-malala-yousafzai-no-premio-nobel-da-paz/

Conheça o discurso de Malala na ONU





Leia com atenção o discurso de Malala feito em 2013 na ONU em defesa do direito à  Educação:
Em 12 de julho de 2013, Malala fez o primeiro discurso público desde o atentado, durante a reunião dos jovens líderes na Assembleia Geral da ONU, em Nova York. A data coincidiu com o seu aniversário de 16 anos e foi oficializada pelo Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, como o “Dia Malala”, em homenagem aos seus esforços para garantir educação para todos.
“Eu não sei por onde começar o meu discurso, eu não sei o que as pessoas estão esperando que eu fale. Mas, primeiro de tudo, agradeço a Deus, para quem todos nós somos iguais. E obrigada a cada pessoa que rezou pela minha rápida recuperação e nova vida. Não posso acreditar em quanto amor as pessoas têm demonstrado em relação a mim. Tenho recebido milhares de cartões e presentes do mundo inteiro. Obrigada a todos, às crianças que, com palavras inocentes, me incentivaram, e aos mais velhos, cujas orações me fortaleceram.
Queridos irmãos e irmãs, lembrem-se de uma coisa: O “Dia Malala” não é o meu dia. Hoje é o dia de cada mulher, cada garoto e cada garota que levanta a voz pelos seus direitos. Há centenas de ativistas de direitos humanos e trabalhadores sociais que não estão falando apenas pelos seus direitos, mas que estão lutando para atingir seu objetivo de paz, educação e igualdade. Milhares já foram mortos pelos terroristas e milhões foram feridos por eles. Eu sou só mais um deles. Então, aqui estou. Então, aqui estou eu, uma menina, entre tantas. Eu falo não por mim, mas por aqueles cujas vozes não podem ser ouvidas. Por aqueles que têm lutado por seus direitos. O seu direito de viver em paz. O seu direito de ser tratado com dignidade. O seu direito à igualdade de oportunidades. O seu direito de ser educado.
Queridos amigos, em 09 de outubro de 2012, o Taliban atirou no lado esquerdo da minha testa. Atiraram nos meus amigos também. Eles acharam que aquelas balas nos silenciariam. Mas falharam e, então, do silêncio vieram milhares de vozes. Os terroristas pensaram que mudariam meus objetivos e eliminariam minhas ambições, mas nada mudou na minha vida, com exceção disto: a fraqueza, o medo e a falta de esperança morreram; a força, o poder e a coragem nasceram. Sou a mesma Malala, meus desejos são os mesmos, minhas esperanças e sonhos também.
Queridos irmãos e irmãs, não sou contra ninguém e nem estou aqui para falar sobre uma vingança pessoal contra o Taliban ou qualquer outro grupo terrorista. Estou aqui para falar pelo direito de cada criança à educação. Quero educação para os filhos e filhas dos talibãs e para todos os terroristas e extremistas.
Também não odeio o talibã que atirou em mim. Mesmo que eu tivesse uma arma na mão e ele estivesse na minha frente, não atiraria nele. Esta é a compaixão que aprendi com Maomé, profeta da misericórdia, Jesus Cristo e Lorde Buda; esta é a herança de mudança que recebi de Martin Luther King, Nelson Mandela e Mohammed Ali Jinnah. Esta é a filosofia de não violência que eu aprendi com Gandhi, Badshah Khan e Madre Teresa. E este é o perdão que eu aprendi com meu pai e minha mãe. Isto é o que a minha alma está me dizendo: estar em paz e amor com todos.
Queridos irmãos e irmãs, nós percebemos a importância da luz quando vemos a escuridão. Percebemos a importância da nossa voz quando somos silenciados. Da mesma forma, quando estávamos em Swat, no norte do Paquistão, percebemos a importância de canetas e livros quando vimos armas. O sábio ditado que diz “A caneta é mais poderosa que a espada” é verdadeiro. Os extremistas têm medo dos livros e das canetas. O poder da educação os assusta e eles têm medo das mulheres. O poder da voz das mulheres os apavora. É por isto que eles mataram 14 estudantes inocentes no recente ataque em Quetta. E é por isto que eles matam professoras. É por isto que eles atacam escolas todos os dias: porque tiveram e têm medo da mudança, da igualdade que vamos trazer para a nossa sociedade. E eu me lembro que havia um menino em nossa escola que foi perguntado por um jornalista o porquê do Taleban ser contra a educação. Ele respondeu muito simplesmente apontando para seu livro: “um talibã não sabe o que está escrito dentro deste livro”. Eles acham que Deus é um pequeno ser conservador que apontaria armas para a cabeça das pessoas só por elas irem à escola. Esses terroristas estão fazendo mau uso do nome do Islã para seu próprio benefício pessoal.
Paquistão é um país democrático e amante da paz. Pashtuns querem educação para seus filhos e filhas. O Islã é uma religião de paz, humanidade e fraternidade. É um dever e uma responsabilidade garantir educação a cada criança, é o que ele diz. A paz é uma necessidade para a educação. Em muitas partes do mundo, especialmente no Paquistão e no Afeganistão, o terrorismo, a guerra e os conflitos impedem as crianças de irem à escola. Estamos realmente cansados dessas guerras.
Mulheres e crianças estão sofrendo de muitas maneiras, em muitas partes do mundo. Na Índia, crianças pobres e inocentes são vítimas do trabalho infantil. Muitas escolas têm sido destruídas na Nigéria, enquanto os afegãos são oprimidos pelo extremismo. As meninas têm que fazer trabalho infantil doméstico e são forçadas a se casarem em uma idade precoce. Pobreza, ignorância, injustiça, racismo e privação dos direitos básicos são os principais problemas enfrentados por homens e mulheres.
Hoje eu estou focando nos direitos das mulheres e na educação das meninas porque elas são as que mais sofrem. Houve um tempo em que as ativistas mulheres pediam aos homens para defender seus direitos. Mas desta vez, nós vamos fazer isto por conta própria. Eu não estou dizendo para os homens não falarem mais dos direitos das mulheres, mas estou focando na ideia das mulheres serem independentes e lutarem por si mesmas.
Então, queridos irmãos e irmãs, agora é a hora de falar. Então hoje, nós conclamamos os líderes mundiais a alterar as suas estratégias políticas a favor da paz e da prosperidade.
Pedimos aos líderes mundiais que todos os acordos de paz protejam os direitos das mulheres e crianças. Um acordo que se oponha aos direitos das mulheres é inaceitável. Convocamos todos os governos a assegurar a educação obrigatória livre para todas as crianças do mundo. Apelamos a todos os governos que lutem contra o terrorismo e a violência, protegendo as crianças da brutalidade e do perigo. Pedimos às nações desenvolvidas que apoiem a expansão das oportunidades educacionais para meninas nos países em desenvolvimento. Apelamos a todas as comunidades para que sejam tolerantes, rejeitem o preconceito baseado em casta, credo, seita, cor, religião ou agenda para garantir a liberdade e a igualdade para as mulheres, para que elas possam florescer. Nós todos não podemos ter sucesso quando metade de nós fica para trás. Conclamamos nossas irmãs ao redor do mundo a serem corajosas, abraçarem a força dentro de si e conscientizarem-se de seu pleno potencial.
 Queridos irmãos e irmãs, queremos escolas e educação para o futuro brilhante de todas as crianças. Vamos continuam a nossa jornada para o nosso destino de paz e educação. Ninguém pode nos parar. Vamos falar de nossos direitos e vamos trazer a mudança para nossa voz. Nós acreditamos no poder e na força de nossas palavras. Nossas palavras podem mudar o mundo inteiro porque nós estamos todos juntos, unidos pela causa da educação. E se nós queremos atingir nosso objetivo, então vamos nos fortalecer com a arma do conhecimento e vamos nos proteger com a unidade e união.
Queridos irmãos e irmãs, nós não podemos nos esquecer de que milhões de pessoas estão sofrendo com a pobreza, a injustiça e a ignorância. Nós não devemos nos esquecer de que milhões de crianças estão fora da escola. Nós não devemos esquecer que nossos irmãos e irmãs estão esperando por um futuro brilhante e pacífico.
Deixem-nos, portanto, travar uma luta gloriosa contra o analfabetismo, a pobreza e o terrorismo. Deixem-nos pegar nossos livros e canetas porque estas são as nossas armas mais poderosas. Uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo.
A educação é a única solução. Educação antes de tudo.
Obrigada.”

Malala
FONTE: http://www.ikmr.org.br/dia-malala-discurso-onu/



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