Meu cantinho de leitura e estudos

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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

COMO AJUDAR O SEU FILHO A TER BOM

DESEMPENHO NA ESCOLA

1- Muitas vezes, a ajuda para seu filho ter um bom desempenho na escola é uma questão de "mais" ou "menos": Mais escuta, menos repreensão; mais questionamentos, menos queixas inúteis; mais elogios, menos detalhamentos; mais busca de sugestões, menos oferecimento de conselhos.

2- Ame seus filhos profundamente para permitir que eles sejam os melhores.

3- Atualmente, as crianças precisam daquilo de que os alunos sempre precisaram para se dar bem na escola: estrutura familiar, disciplina, desafios, respeito, reconhecimento, oportunidades, escolhas, segundas oportunidades, compreensão e muito amor. Achar um jeito de materializar tudo isso é papel dos pais.

4- Não espere 10 em tudo, mesmo que seu filho seja muito inteligente. Expectativas rígidas e irreais fazem a criança imaginar que, para conseguir o amor dos pais, tem de alcançar padrões inatingíveis. Demonstre seu amor sempre!

5- Seja realista quanto ao que ocorre na escola. Prepare-se para os problemas. Prepare-se para as soluções. Assim, você não será pego de surpresa.

6- Sempre encare um grande esforço como bom desempenho. Elogie quando seu filho demonstrar dedicação e esforço, mesmo que não tire um 10!

7- O bom desempenho escolar é um assunto para a família toda. Nenhum aluno o consegue sozinho. Procure apoiá-lo diariamente, oferecendo condições para que estude, se desenvolva e aprenda.

8- Não permita que os outros definam o potencial de seus filhos.

9- O bom desempenho escolar é uma meta que vale a pena ser perseguida, mas não seja duro demais com seus filhos ou consigo mesmo.

10- Se você quiser ser reconhecido por ter contribuído para o bom desempenho de seu filho na escola, aceite também as críticas pelas falhas.

11- Bom desempenho escolar não se compra. Não ofereça dinheiro para seu filho fazer o dever de casa. O resultado disso não é um aluno melhor, mas uma criança mal-educada, mimada e interesseira.

12- Não peça nem espere favores de seu filho. Os estudantes se fortalecem quando fazem as coisas sozinhos, sem esperar que alguém faça algo por eles.

13- Nunca elogie a mediocridade. O elogio gratuito desvaloriza o que tem mérito. Elogie os esforços e as conquistas bem-feitas.

14- Procure ser um modelo em tudo para o seu filho.

15- Seja um bom ouvinte, às vezes, o melhor modo de ajudar o desempenho de um filho é simplesmente estar disposto a escutá-lo.

16- Quando algo vai mal na escola, lembre-se de que seu filho não é mau, preguiçoso ou burro - é apenas uma criança e que está em formação. Cabe a você ajudá-lo em seu crescimento.

17- Seus filhos podem ter a melhor educação formal que quiser dar a eles. Isso talvez signifique trabalho duro, esforços extras, escolhas difíceis, sacrifícios e firmeza, mas pode se tornar real. Se não se tornar, alguns professores e diretores talvez tenham uma parcela da responsabilidade, mas o verdadeiro motivo é que você e seus filhos não desejaram isso de verdade.

Texto adaptado do 1º Capítulo do livro Criança Nota 10, Autor: Robert D. Ramsey,
Editora: Publifolhav, pela Profª Francisca P.Martins

PROPOSTA DE PRODUÇÃO DE TEXTO PARA O GRUPO DE ESTUDO

A Bola que rola nas quadras, nos gramados e nas areias das praias foi tema de Músicas, Poemas, Reportagens, Crônicas e outros gêneros textuais. O poema narrativo Martim Cererê - O jogador de Futebol, de Cassiano Ricardo também abordou o tema. Veja:

MARTIM CERERÊ - Jogador de Futebol

O pequenino vagabundo joga bola
e sai correndo atrás da bola que solta e r.ola.
Já quebrou quase todas as vidraças
Inclusive a vidraça azul daquela casa
onde o sol parecia um arco-íris em brasa.
Os postes estão hirtos de tanto medo.
(O pequenino vagabundo não é brinquedo...)
E quando o pequenino vagabundo
cheio de sol, passa correndo entre os garotos,
de blusa verde-amarela e sapatos rotos,
aparece de pronto um guarda policial,
o homem mais barrigudo deste mundo,
com os seus botões feitos de ouro convencional,
e zás! carrega-lhe a bola!
“Estes marotos
precisam de escola...

O pequenino vagabundo guarda nos olhos,
durante a noite toda, a figura hedionda
do guarda metido na enorme farda
com aquele casaco comprido todo chovido
de botões amarelos.
E a sua inocência improvisa os mais lindos castelos;
e vê, pela vidraça,
a lua redonda que passa, imensa,
como uma bola jogada no céu.
“É aquele Deus com certeza,
de que a vovó tanto fala.
Aquele Deus, amigo das crianças,
que tem uma bola branca cor de opala
e tem outra bola vermelha cor do sol;
que está jogando noite e dia futebol
e que chutou a lua agora mesmo
por trás do muro e, de manhã, por trás do morro,
chuta o sol ...

Cassiano Ricardo

Agora leia o texto produzido por Luis Fernando Verissimo:

O mistério do futebol - Luis Fernando Verissimo


18 de setembro de 2007 - 20:29

"O prazer de acertar um chute no ângulo da goleira. Qualquer goleira. O que pode se comparar,
na experiência humana? Ou na experiência humana de um brasileiro?"
Começa quando a gente é criança. Quando qualquer coisa - até o corredor da casa - é um campo de futebol e qualquer coisa vagamente esférica é a bola. Se é genético, não se sabe. Um brasileiro criado na selva por chimpanzés, quando se pusesse de pé, começaria a fazer embaixadas com frutas, mesmo sem saber o que estava fazendo? Não se sabe.
Nenhum prazer que teremos na vida depois, incluindo a primeira transa, se iguala ao prazer da primeira bola de verdade. Autobiografia: sou do tempo da bola de couro com cor de couro. A oficial, número 5. Ganhei a minha primeira com cinco ou seis anos. Ainda me lembro do cheiro. Depois de ganhá-la, você ficava num dilema: levá-la para a calçada e começar a chutá-la, ou preservar o seu couro reluzente? Uma bola futebol de verdade era uma coisa tão preciosa que se hesitava em estragá-la com o futebol.
Futebol de calçada. O tamanho dos times variava. De um para cada lado a 14 ou 15 para cada lado. Duração das partidas: até escurecer ou a vizinhança reclamar, o que acontecesse primeiro.
Nada interrompia as partidas. Ninguém saía. Joelho ralado, a mãe via depois. Gente passando na calçada que se cuidasse. Só se respeitava velhinha, deficiente físico e, vá lá, grávida. Os outros não estavam livres de ser atropelados. Quem mandara invadir nosso campo?
Comparado com calçada, terreno baldio era estádio. E terreno baldio com goleiras, então, era Maracanã. As goleiras podiam ser feitas com sarrafos ou galhos de árvore. Não importava, eram goleiras. Um luxo antes inimaginável.
O prazer de acertar um chute no ângulo da goleira. Qualquer goleira. O que pode se comparar, na experiência humana? Ou na experiência humana de um brasileiro?
Todos estes prazeres passam - com o tempo e as obrigações, com a vida séria, com a barriga - mas o amor pelo nosso time continua. Confiamos ao nosso time a tarefa de continuar nossa infância por nós. Passamos-lhe a guarda dos nossos prazeres com a bola. A relação com o nosso time é a única das nossas relações infantis que perdura, tão intensa e irracional quanto antes. Ou mais.
De onde vem isso? Que tipo de amor é esse? Um mistério. Dizem que no fundo é uma necessidade de guerra. De ter uma bandeira, ser uma nação e arrasar outras nações, nem que seja metaforicamente. Psicologia fácil. Não explica por que a pequena torcida do Atlético Cafundó, que nunca arrasará ninguém, continua torcendo pelo seu time. Talvez o que a gente ame no futebol seja o nosso amor pelo futebol. Isso que nos faz diferentes dos outros, que amam o futebol mas não tanto, não tão brasileiramente.
Ou talvez o que a gente ame seja justamente o mistério.

* Luis Fernando Verissimo – Jornalista e escritor


AGORA É A SUA VEZ!
A 1ª proposta de produção de texto para o grupo de estudo: Escreva uma crônica sobre futebol.Você deverá seguir as seguintes instruções:

 Escreva o seu texto, a partir do poema de Cassiano Ricardo. A situação corriqueira de um grupo de crianças brincando de futebol na rua será seu ponto de partida. Você poderá ampliar a narrativa construida pelo poeta, acrescentando ao texto outros elementos da narrativa e não se esqueça de que o seu  texto deverá apresentar outra estrutura, já que a proposta é construir uma Crônica Narrativa.
Mantenha a mesma pessoa do discurso (3ª pessoa) e escreva  um texto com, no máximo, 25 linhas.
 
Cada turma deverá entregar o seu texto, em folha de almaço, no dia de sua aula de Grupo de Estudo.
Um abraço e até lá!
 
Profª Francisca

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A bola e o livro

Galeno Amorim - 14/07/2010

Publicado em Revista Gestão & Negócios

O sonho de Edward era ser jogador de futebol. Começaria, por certo, no seu glorioso Mirassol Futebol Clube e, depois, num time grande. Quem sabe não ainda virasse ídolo do escrete nacional...
Por falta de treino é que não era. Todo santo dia aquele bando de garotos sem eira nem beira praticava com fervor quase religioso, rumo à glória quase certa. Era o sonho dele. E de milhões de outros Edward pelo (quase) país do futebol da época, em meados do século 20.
E não é que foi mesmo graças, de certa forma, ao futebol que a vida dele deu uma guinada?!
Pois num belo dia, Edward, não mais que oito anos, participava de uma disputadíssima pelada no pátio da escola. Eis que um perna-de-pau qualquer dá um tremendo chutão e a bola vai parar lá longe. Escalado pra resgatar a preciosa, que se enfiara por uma maldita janela aberta, lá foi ele. O que viu, do outro lado, chamou sua atenção.
E gostou tanto que não voltou mais.
Jamais o menino vira tanto livro junto assim. Aquilo era uma biblioteca. E justo naquela hora chegava uma penca de livros novinhos em folha. Pegou um deles – era “A Banana que Comeu o Macaco”, disso jamais se esqueceria pelo resto de sua vida. Em um ano, Edward leria aquele e outros 250 livros.
Aos poucos, já escrevia melhor. Um dia, o professor mandou, em que soubesse, um texto seu para um concurso. O rapazote faturou o primeiro lugar! Passou a gostar cada vez mais de negócio de ler. Abiscoitou mais um prêmio aqui e outro lá, e a até passou a ganhar algum dinheiro com isso.
Resolveu entrar para o Banco do Brasil, sonho de consumo e de carreira para jovens atrás de um bom emprego. Mas, na hora da prova, tirou um belo zero em Contabilidade. Só que os livros que habituara a ler o tempo todo o ajudariam a livrar a cara: o rapaz ganhou nota dez em todas as outras matérias!
Mais uma vez, os livros mudariam o rumo da sua vida: um dia ele corrigiu a professora numa aula do Cursinho. Argumentou tão bem que a escola não teve dúvidas: contratou na mesma hora o aluno para lecionar no lugar dela. Para dar conta das aulas de Latim na faculdade, ele resolveu ir a um sebo atrás de livros. Como o dinheiro era curto, resumiu bem resumido um e outro. Quando se deu conta, tinha feito seu próprio livro – o primeiro de uma longa série que estava por vir.
Edward e os livros pareciam mesmo fadados uns aos outros. E decidiu ir de vez atrás deles e abraçar a carreira de linguista. Acabou ficando famoso. Hoje em dia, não há faculdade de Letras no País que não estude ou tenha como referência alguma obra de Semiótica e Linguística do professor Edward Lopes.
—A arte é eterna, não a Ciência... – ele ensina.
A seleção brasileira de futebol pode ter perdido um talento incerto. Mas o País acabou ganhando um craque das letras.
Galeno Amorim é jornalista, escritor e diretor do Observatório do Livro e Leitura. Criou o Plano Nacional do Livro e Leitura, no Governo Lula, e é considerado um dos maiores especialista do tema Livro e Leitura na América Latina.

www.blogdogaleno.com.br

CANTINHO DO CRONISTA LUIS FERNANDO VERÍSSIMO

Luis Fernando Verissimo nasceu em 26 de setembro 1936, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Filho do grande escritor Érico Veríssimo, iniciou seus estudos no Instituto Porto Alegre, tendo passado por escolas nos Estados Unidos quando morou lá, em virtude de seu pai ter ido lecionar em uma universidade da Califórnia, por dois anos. Voltou a morar nos EUA quando tinha 16 anos, tendo cursado a Roosevelt High School de Washington, onde também estudou música, sendo até hoje inseparável de seu saxofone. É casado com Lúcia e tem três filhos.
Jornalista, iniciou sua carreira no jornal Zero Hora, em Porto Alegre, em fins de 1966, onde começou como copydesk mas trabalhou em diversas seções ("editor de frescuras", redator, editor nacional e internacional). Além disso, sobreviveu um tempo como tradutor, no Rio de Janeiro. A partir de 1969, passou a escrever matéria assinada, quando substituiu a coluna do Jockyman, na Zero Hora. Em 1970 mudou-se para o jornal Folha da Manhã, mas voltou ao antigo emprego em 1975, e passou a ser publicado no Rio de Janeiro também. O sucesso de sua coluna garantiu o lançamento, naquele ano, do livro "A Grande Mulher Nua", uma coletânea de seus textos.
Participou também da televisão, criando quadros para o programa "Planeta dos Homens", na Rede Globo e, mais recentemente, fornecendo material para a série "Comédias da Vida Privada", baseada em livro homônimo.
Escritor prolífero, são de sua autoria, dentre outros, O Popular, A Grande Mulher Nua, Amor Brasileiro, publicados pela José Olympio Editora; As Cobras e Outros Bichos, Pega pra Kapput!, Ed Mort em "Procurando o Silva", Ed Mort em "Disneyworld Blues", Ed Mort em "Com a Mão no Milhão", Ed Mort em "A Conexão Nazista", Ed Mort em "O Seqüestro do Zagueiro Central", Ed Mort e Outras Histórias, O Jardim do Diabo, Pai não Entende Nada, Peças Íntimas, O Santinho, Zoeira , Sexo na Cabeça, O Gigolô das Palavras, O Analista de Bagé, A Mão Do Freud, Orgias, As Aventuras da Família Brasil, O Analista de Bagé,O Analista de Bagé em Quadrinhos, Outras do Analista de Bagé, A Velhinha de Taubaté, A Mulher do Silva, O Marido do Doutor Pompeu, publicados pela L&PM Editores, e A Mesa Voadora, pela Editora Globo e Traçando Paris, pela Artes e Ofícios.
Além disso, tem textos de ficção e crônicas publicadas nas revistas Playboy, Cláudia, Domingo (do Jornal do Brasil), Veja, e nos jornais Zero Hora, Folha de São Paulo, Jornal do Brasil e, a partir de junho de 2.000, no jornal O Globo.
Na opinião de Jaguar "Verissimo é uma fábrica de fazer humor. Muito e bom. Meu consolo — comparando meu artesanato de chistes e cartuns com sua fábrica — era que, enquanto eu rodo pelaí com minha grande capacidade ociosa pelos bares da vida, na busca insaciável do prazer (B.I.P.), o campeão do humor trabalha como um mouro (se é que os mouros trabalham). Pensava que, com aquela vasta produção, ele só podia levantar os olhos da máquina de escrever para pingar colírio, como dizia o Stanislaw Ponte Preta. Boemia, papos furados pela noite a dentro, curtir restaurantes malocados, lazer em suma, nem pensar. De manhã à noite, sempre com a placa "Homens Trabalhando" pendurada no pescoço."

Extremamente tímido, foi homenageado por uma escola de samba de sua terra natal no carnaval de 2.000.

BIBLIOGRAFIA :

Crônicas e Contos:

- A Grande Mulher Nua (7)
- Amor brasileiro (7)
- Aquele Estranho Dia que Nunca Chega (2)
- A Mãe de Freud (1)
- A Mãe de Freud (1) (ed. de bolso)
- A Mesa Voadora (6)
- A Mulher do Silva (1)
- As Cobras (1)
- A velhinha de Taubaté (1)
- A versão dos afogados – Novas comédias da vida pública (1)
- Comédias da Vida Privada (1)
- Comédias da Vida Privada (1) (ed. de bolso)
- Comédias da Vida Pública (1)
- Ed Mort em “O seqüestro o zagueiro central” (ilust. de Miguel Paiva) (1)
- Ed Mort em “Com a Mão no Milhão” (ilust. de Miguel Paiva) (1)
- Ed Mort e Outras Histórias (1)
- Ed Mort em “Procurando o Silva” (ilust. de Miguel Paiva) (1)
- Ed Mort em Disneyworld Blues (ilust. de Miguel Paiva) (1)
- As Cobras em “Se Deus existe que eu seja atingido por um raio” (1)
- As Aventuras da Família Brasil, Parte II (1)
- História de Amor 22 (com Elias José e Orlando Bastos) (3)
- Ler Faz a Cabeça, V.1 (com Paulo Mendes Campos) (5)
- Ler Faz a Cabeça, V.3 (com Dinah S. de Queiroz) (5)
- Novas Comédias da Vida Privada (1)
- O Analista de Bagé em Quadrinhos (1)
- O Marido do Dr. Pompeu (1)
- O Popular (7)
- O Rei do Rock (6)
- Orgias (1)
- Orgias (1) (ed. de bolso)
- O Suicida e o Computador (1)
- O Suicida e o Computador (1) (ed. bolso)
- Outras do Analista de Bagé (1)
- Para Gostar de Ler, V.13 - "Histórias Divertidas", com F. Sabino e M. Scliar (3)
- Para Gostar de Ler, V.14 (3)
- Para Gostar de Ler, V.7 – "Crônicas", com L. Diaféria e J.Carlos Oliveira (3)
- Peças Íntimas (1)
- Separatismo; Corta Essa! (1)

Após mais de 20 anos tendo seus trabalhos publicados pela L&PM Editores, de Porto Alegre (RS), foi anunciada, em 05/07/2000, sua contratação pela Editora Objetiva, do Rio de Janeiro (RJ).

Fonte: www.releituras.com/lfverissimo_bio.asp

A BOLA

O pai deu uma bola de presente ao filho. Lembrando o prazer que sentira ao ganhar a sua primeira bola do pai. Uma número 5 sem tento oficial de couro. Agora não era mais de couro, era de plástico. Mas era uma bola.

O garoto agradeceu, desembrulhou a bola e disse “Legal!”. Ou o que os garotos dizem hoje em dia quando gostam do presente ou não querem magoar o velho. Depois começou a girar a bola, à procura de alguma coisa.

- Como é que liga? – perguntou.

- Como, como é que liga? Não se liga.

O garoto procurou dentro do papel de embrulho.

- Não tem manual de instrução?

O pai começou a desanimar e a pensar que os tempos são outros. Que os tempos são

decididamente outros.

- Não precisa manual de instrução.

- O que ela faz?

- Ela não faz nada. Você é que faz coisas com ela.

- O quê?

- Controla, chuta...

- Ah, então é uma bola.

- Claro que é uma bola.

- Uma bola, bola. Uma bola mesmo.

- Você pensou que fosse o quê?

- Nada, não.

O garoto agradeceu, disse “Legal”, de novo, e dali a pouco o pai o encontrou na frente da tevê, com a bola nova do lado, manejando os controles de um videogame. Algo chamado Monster Ball, em que times de monstrinhos disputavam a posse de uma bola em forma de blip eletrônico na tela ao mesmo tempo que tentavam se destruir mutuamente. O garoto era bom no jogo. Tinha coordenação e raciocínio rápido. Estava ganhando da máquina.

O pai pegou a bola nova e ensaiou algumas embaixadas. Conseguiu equilibrar a bola no

peito do pé, como antigamente, e chamou o garoto.

- Filho, olha.

O garoto disse “Legal”, mas não desviou os olhos da tela. O pai segurou a bola com as mãos e a cheirou, tentando recapturar mentalmente o cheiro do couro. A bola cheirava a nada. Talvez um manual de instrução fosse uma boa idéia, pensou. Mas em inglês para a garotada se interessar.

Luis Fernando Veríssimo


quarta-feira, 11 de agosto de 2010

O que falta para a juventude hoje?

· O que falta para a juventude hoje? 'Estado' reuniu oito jovens para debater temas como família, drogas e mercado de trabalho

O Estado de São Paulo, Cidades, Domingo, 7 de setembro de 2003

Oito jovens reunidos durante 90 minutos. Tempo suficiente para perceber a diversidade de opiniões, ideais e projetos de vida. No fim dos anos 60, a juventude erguia a bandeira da liberdade. Hoje, num mundo de idéias políticas e comportamentais mais difusas, as bandeiras podem ser várias, pautadas por temas como educação, emprego, violência e desigualdade social, só para citar alguns. Na semana passada, o Estado promoveu o encontro dessa galera. Galera de tribos diferentes. Tribos de realidades distintas. Em comum, o desejo de mudar.
São jovens com histórias. Isis Lima Soares, de 16 anos, acaba de voltar do Marrocos, onde representou o Brasil numa conferência da juventude sobre desenvolvimento sustentável. Há oito anos, fundou a ONG Cala Boca Já Morreu, para dar voz a crianças e adolescentes. Dois anos mais novo, Paulo Luiz Souto e Silva Filho também já viajou o mundo representando o País. É "atleta" da CyberGames e disputa campeonatos de jogos eletrônicos. Diego Andrade da Silva, de 16, integra o grupo de hip hop Banca dos Loucos. Mora na periferia da zona sul e ajuda a mãe no orçamento com o Bolsa-Escola.
Bruno Ramos da Silva, de 16, é aprendiz na Companhia Metropolitana de Habitação e, nos fins de semana, entrega pizza. Auxilia jovens em situação de risco no Centro de Defesa da Criança e do Adolescente, no Belém.
Camilo Bousquat Árabe, de 14 anos, é engajado em projetos sociais desenvolvidos pela escola e faz parte do Fórum da Criança e do Adolescente do Butantã. Silvana Forsait, de 16, faz parte do movimento juvenil judaico, que desenvolve atividades de lazer e educação para crianças e adolescentes.
Angélica dos Santos, de 14, freqüenta as missas dominicais e participa de um grupo de jovens na Igreja São José Operários. Faz parte do Arrastão - Movimento de Promoção Humana. Aline Mastromauro, de 17, é filiada à União da Juventude Socialista e ao PC do B. Já sonha com uma vida política.

ENGAJAMENTO

· Isis - Falta muita informação para os jovens. Você percebe que eles não sabem de muita coisa, não participam de projetos nem sabem o que está acontecendo. Quando têm acesso, é muito superficial. Se soubessem mais sobre seu País, cidade, bairro em que vivem desde que nasceram, eles se envolveriam muito mais.
· Silvana - Não é que falta acesso à informação. A gente tem jornal, revista, internet e televisão. Só que você tem de saber escolher sua fonte. Agora, ninguém ganha informação sem querer ter informação.
· Bruno - É preciso montar mais projetos, dar mais empregos porque muitos jovens estão querendo trabalhar e, se não conseguem, vão fazer coisa errada, querer ganhar a vida fácil, a chamada vida louca.
· Aline - O que está faltando para a juventude hoje? É começar a perceber a questão de sua americanização hoje. O pessoal só quer saber de Back Street Boys, Spice Girls, não quer entender o que é o Brasil, nem ouvir Gilberto Gil, Caetano Veloso. Aí, ele acaba se perdendo, fugindo da nossa realidade. Temos de parar para pensar o que está errado não só para gente, mas para a juventude.

ESCOLA

· Diego - Quando chego na escola, não me sinto bem porque as cadeiras são todas quebradas. É a maior zona, tem professor que chega e fica conversando com os alunos e não dá matéria. Quando um aluno quer ir embora ele deixa e ainda dá presença. O diretor não tem nem coragem de aparecer.
· Isis - Desde os 8 anos, já passei por quatro escolas. Nenhuma delas conseguiu entender o que eu faço fora da escola, no (projeto) Cala Boca Já Morreu. Se a gente passa 11 anos numa escola e ela não entende que se aprende fora dela, desestimula, cansa, chateia. Lá é obrigado a sentar um atrás do outro, olhando para a nuca da pessoa que está na frente e nunca nos olhos. Não há diálogo.
· Angélica - Na minha, os professores são muito distantes do aluno. Tem vezes que a gente fica lá olhando um para a cara do outro. Não estou sendo preparada para muita coisa.
· Camilo - Se não fosse minha escola, eu não tinha cabeça. Ela me formou desde que tinha 3 anos e não é só matéria. Não é só vestibular. Tem de tudo, tem trabalho de projeto social, esporte, lazer. A escola me ensina a ver melhor as coisas.


MERCADO DE TRABALHO

· Paulo - Se eu for arrumar um trabalho e na hora da entrevista disser que viajei para o exterior para jogar (videogame), aí o cara vai dizer "e...". Então, tenho de parar e pensar que o cara não vai me dar um emprego porque não estudei, só fiquei no jogo. Se não pensar no que vou fazer na universidade, fica difícil arrumar um emprego.
· Silvana - O mercado de trabalho não é imprescindível para o jovem, mas é para o adulto. Concordo que tem de pensar no hoje, mas tem de viver pensando no amanhã. Se não agir assim, vai ser muito difícil conseguir seu emprego.
· Aline - A universidade não deve servir só para o mercado de trabalho, mas para formar cidadão. Como a escola não tem de formar só para o vestibular.
· Isis - Se uma escola só forma para o vestibular, então, caramba, o que a gente está fazendo aqui? Acho que sou mais que um bonequinho que vai produzir para os outros consumirem. Isso talvez explique a falta de amor a uma causa. A gente está sempre se formando para o futuro, para o futuro. Pô, e o agora?
· Diego - Para falar a verdade, nunca pensei nessa coisa de vestibular. Penso na música.


FAMÍLIA

· Bruno - O que mais me deixa alegre ao levantar é ver minha mãe sorrindo e me dar um beijo pra eu ir trabalhar e depois voltar, ver a mesma cara dela e ir pra escola. Só isso pra me deixar feliz mesmo.
· Camilo - Uma das coisas que mais gosto é perceber que tô sentindo saudade, porque sinto que aquilo tem valor pra mim. O jovem sempre tenta negar, dizer que não sente saudade dos pais. Numa viagem, cheguei para os meus amigos e falei: 'Pô, tô com a maior saudade da minha mãe.'

DROGAS

· Paulo - Depende da pessoa. Se um cara chegar oferecendo drogas e a cabeça dele for bagunçada, ele vai querer. Acho que essas paradas de beber antes dos 18 não são uma boa.
· Bruno - Se a pessoa quiser se envolver, ela se envolve. Dou força pra não entrar, mas se não adiantar, não sou eu que vou mudar a cabeça da pessoa.
· Diego - Lá no meu bairro tem moleque que fuma e a gente fica perto. Eles ficam dando idéia: 'Não faz esses negócios aqui que eu sei que o que tô fazendo é errado.' Camilo - Tem muito preconceito entre o jovem. O cara pensa: 'Ali tem maconha, tem bebida, então, não vou.' Acho que não pode ter isso. O cara pode fumar maconha, mas ser um puta de um gente fina, tem muito cara que não fuma e é folgado ou agressivo.

FUTURO

· Bruno - Queria virar presidente, diretor de onde trabalho, a Cohab (Companhia Metropolitana de Habitação). Me formar engenheiro civil e estar no cargo dele.
· Camilo - Sei lá, independentemente de qual for a escolha, pretendo continuar a tentar mudar. É muita desigualdade. Aqui temos três situações: tem gente de escola particular que adora seus colégios e tem de escolas públicas que falam que escola pública não funciona.
· Isis - Não sei dizer o que quero daqui a dez anos, só que em dez anos quero fazer muitas coisas. Queria muito jornalismo ou relações internacionais. Quero ter experiência com governo para mudar as políticas públicas para a juventude.
· Aline - Quero fazer jornalismo e pedagogia. Mas quero mesmo é seguir a carreira política, ser vereadora, depois deputada e por aí...
· Paulo - Fazer engenharia da computação, trabalhar no exterior, ajudar a criar novas tecnologias e ser uma pessoa feliz.
· Silvana - Ser oncologista pediátrica. É impossível uma pessoa fazer a felicidade do mundo, só que ela pode ajudar um pouco, então, quero fazer o que estiver ao meu alcance.
· Angélica - Eu não tenho muita idéia do que vou fazer daqui a dez anos. Gosto de desenhar... mas o que vier, o que for pra ser...
· Diego - Quero estar num show com o meu grupo, com muitas pessoas e que pelo menos uma delas se conscientize do que eu tô falando.


(Adriana Carranca e Eduardo Nunomura)
Fonte:http://www.gtpos.org.br

Encolheram a infância

As crianças trocaram brinquedos por temas do mundo adulto. Sem suporte familiar, pode ser desastroso

Paula Mageste Com reportagem de João Luiz Vieira e Martha Mendonça

A carioca Júlia Távora acorda todos os dias às 6h30 e toma leite com torradas na varanda de sua suíte.. Depois do banho, veste jeans Levi's, camiseta Gap e calça tamancos Melissa. São altos, como 90% de seus sapatos. "Queria ser maior", confessa. Ela arremata a produção com uma borrifada do perfume Polo, de Ralph Lauren, e imensos brincos de argola. Às 7, celular em punho, já está na rua, com disposição para enfrentar uma agenda cheia, que pode terminar num restaurante japonês às 22 horas. Júlia tem 13 anos, mas desde bem pequena mantém essa rotina quase de adulto.
Além dos estudos na Escola Americana, em inglês, ela joga vôlei, participa de um grupo de cheer leaders (meninas que fazem coreografias com pompons coloridos) e tem aulas de jazz. Em casa, na suíte equipada com telefone, laptop de última geração, impressora colorida e CD player, faz a lição de casa, que chama de homework, e conversa com as amigas pelo telefone ou pela internet, usando o programa de comunicação em tempo real ICQ. Trilha sonora: Mariah Carey e Alanis Morrissette. Assiste a seriados como Felicity e Friends, que tratam de relacionamentos de jovens adultos. Sua mãe, a empresária Marisa Vianna, de 41 anos, a chama carinhosamente de "peruinha". Júlia discorda. Acha que é mais madura que outras meninas. "Algumas têm assuntos infantis", critica.
Muitos compromissos também lotam a semana de Maria Paula Marques Macedo, de 7 anos, do Recife. "Tenho agendinha para acompanhar meu dia. TV, só no fim de semana", explica. As duas meninas resumem bem, no contexto da classe média, o que vem ocorrendo com os cidadãos de até 9 anos (20% da população brasileira) e entre 10 e 14 anos (11%). Ser criança não é mais ficar sujo, correr descalço pela rua e fazer travessuras. Esse ideal romântico de infância não cabe num mundo violento e transformado velozmente pela tecnologia. A revolução é irreversível, e suas conseqüências imprevisíveis. Resta aprender a lidar com esse estado de coisas, para que a "nova infância" possa, a seu modo, cumprir o devido papel na formação do indivíduo.
A maioria dos especialistas acredita que está havendo um encurtamento da infância. A adolescência começa mais cedo, com a troca de bonecas e carrinhos por elementos do mundo adulto. "Brincar de boneca é coisa de criança, e eu sou uma pré-adolescente", sentencia a paulistana Maria Paula Oliveira, de 10 anos. A atriz global Cecilia Dassi, de 11, e seu irmão Giordano, de 8, poderiam participar de qualquer roda de conversa. Têm opiniões formadas sobre os ataques terroristas nos Estados Unidos, a renúncia de Jader Barbalho e os discursos do presidente sobre racionamento de energia. "Sou evoluído", diz Giordano. A mãe de Cecilia, Elenara, de 33 anos, conta que a filha não sai de casa sem passar batom, além de ter uma tendência a "psicologizar" as personagens que interpreta, como a Zoé, de A Padroeira.
Do ponto de vista biológico, essa antecipação da adolescência vem ocorrendo progressivamente desde a Revolução Industrial. O pesquisador inglês J. Tanner sistematizou dados obtidos em registros antigos e tirou conclusões sobre o que chamou de aceleração secular do crescimento e da maturação biológica. Por volta de 1830, a idade média da menarca (primeira menstruação) era 17 anos. No começo do século XX, baixou para 14. Hoje, é 12 - as meninas menstruam pela primeira vez nove meses antes que as mães.
Segundo o pediatra e psicoterapeuta de adolescentes Eugenio Chipkevitch, do Instituto Paulista de Adolescência, há várias explicações para essa antecipação da maturação biológica ao longo de dois séculos. As mais expressivas são a melhora na nutrição, com mais proteínas na dieta, o aumento da temperatura média do planeta, os progressos da medicina (vacinas e antibióticos, por exemplo) e a diminuição do trabalho infantil. O conceito de criança, como um ser em formação que necessita de atenção e cuidados especiais, surgiu no início do Renascimento. Na Idade Média, os pequenos eram tratados como estorvos improdutivos. Antes da Revolução Industrial, eram considerados miniadultos e tinham uma série de atribuições.
Nos últimos 50 anos a infância sofreu mudanças que estão mais relacionadas a estímulos psicossociais, resultantes do meio em que se vive. Os impulsionadores da transformação foram a TV, a nova estrutura da família e, a partir da década passada, a popularização das novas mídias. Mais que ter acesso a todo tipo de informação, as crianças estão indiscriminadamente expostas a elas. Professor do Departamento de Cultura e Comunicação da Universidade de Nova York e autor de O Desaparecimento da Infância, Neil Postman acredita que caíram as fronteiras entre crianças e adultos. Os maiores sintomas são a erotização precoce e o aumento da participação de menores nos índices de criminalidade. "O período da meninice, entre os 7 e os 10 anos, está em extinção", diz.
É preocupante. É nessa etapa da vida que a criança desenvolve conhecimentos e valores, aprende a se relacionar e a perceber os próprios sentimentos. Entende o limite entre o público e o privado. Para isso, precisa de carinho, de brincadeira e de ócio. Brincar no computador vale, desde que seja apenas uma entre várias possibilidades. Até os 6 anos, é fundamental estimular atividades que envolvam o corpo. Mas o último relatório do MEC sobre a educação infantil no Brasil mostra que as escolinhas têm mais livros que brinquedos.
O encurtamento da infância não é só uma questão de tempo, mas de temática. As crianças fazem muito as mesmas e poucas coisas. "Estão vivendo o mundo do adulto, direcionadas para o consumo e para o computador", afirma a psicóloga Rosely Sayão, diretora da revista Crescer. "Isso deixa pouco tempo para que elas se expressem, exponham suas angústias por meio de uma brincadeira ou consigam elaborar suas experiências", alerta.
O mundo infantil, por sinal, ficou confinado a espaços fechados como o shopping, as casas de diversões eletrônicas e o próprio quarto. Nele, as crianças recebem amigos, passam horas entre games e internet, fazem as tarefas. Os decoradores tiveram de criar projetos mais afinados com essa realidade. Ursinhos, babadinhos e lacinhos são exclusividade dos bebês. A designer Carolina Szabó conta que as crianças querem tudo funcional: bancada de trabalho, nichos para computador, som e TV, cama extra para hóspede. Opinam. Sabem o que querem. Se os pais hesitam, decidem sozinhas.
Elas influenciam os pais ou consomem diretamente R$ 50 bilhões por ano. Somente na indústria de brinquedos, são R$ 900 milhões. Esse mercado cresceu 8% em 2000, porque soube enxergar a nova criança e oferecer-lhe brinquedos mais interativos. As meninas largam a boneca mais cedo. "Depois dos 9, só se for escondido", afirma o presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), Sinésio Batista da Costa. "Competimos com roupas, sapatos e cosméticos." A boneca tem de ser glamourosa como uma top model e trocar de roupas várias vezes. Neste ano, serão confeccionados 250 milhões de vestidinhos de boneca, contra 80 milhões de peças em 1996. Dá 1,5 vestido por habitante.
O mercado editorial pegou carona no impulso consumista das crianças, proporcional ao dos adultos de hoje. O editor Paulo Rocco trouxe para o Brasil Harry Potter, um dos maiores sucessos editoriais do mundo. Os três volumes da série venderam mais de 800 mil exemplares no Brasil. São tijolaços de mais de 300 páginas, sem nenhuma ilustração, surpreendentemente devorados por leitores de 8 anos. Harry Potter à parte, Rocco informa que o conjunto da literatura infantil cresceu entre 30% e 40% nos dois últimos anos. De cada 150 títulos que lança, 32 são para esse público. A coleção de maior sucesso na editora é a Rua do Medo. "Os leitores de até 12 anos querem suspense, terror e aventura", diz Ana Martins, coordenadora editorial da divisão Rocco Jovens Leitores. "As crianças estão menos ingênuas e os contos de fadas não interessam tanto. O vilão faz mais sucesso que o mocinho."  (...)
Sinal dos tempos. O encurtamento da infância apresenta à criança temas para os quais ela talvez ainda não esteja preparada. E não se trata apenas da TV. A própria escola está antecipando experiências. Crianças começam a ser "sensibilizadas" para a alfabetização aos 3 anos. Muitas precisam fazer "vestibulinho" para concorrer a uma vaga numa boa escola, como Visconde de Porto Seguro ou Santa Cruz, em São Paulo, e o Santo Inácio, no Rio de Janeiro. Competição e preocupação com desempenho não deveriam fazer parte do universo infantil. Mas fazem e são estressantes, conforme pondera a diretora pedagógica do Porto Seguro, Sonia Bittencourt. "Temos mais interessados que vagas, e o teste é a forma de resolver isso", justifica. "Tentamos tornar a experiência menos traumática, trabalhando com os pais para que não passem sua ansiedade aos filhos."
O papel da escola ganha importância sem parar. As crianças começam os estudos cada vez mais cedo, fazem ali boa parte de suas amizades e ali esperam encontrar as respostas que faltam em casa. Passam pouco tempo com os pais e nem sempre a comunicação com eles flui. "A escola deve ampliar o repertório da criança, apresentar novidades, impor limites", assinala Sonia. O Porto Seguro oferece educação sexual a partir da 4a série e promove encenação de peças de teatro e concertos de música clássica. "Ninguém nasce odiando Beethoven e adorando as letras imorais do É o Tchan", reforça.
Percebida na cópia do jeito adulto de se vestir, nas danças sensuais e num desejo descabido de autonomia, a erotização precoce é o sintoma mais gritante de um fenômeno que vem sendo estudado pela psicóloga Maria Aznar, com doutorado em andamento na Universidade de Valência, na Espanha. Segundo ela, comportamentos adolescentes, principalmente em meninas, estão ocorrendo antes mesmo do início da puberdade, que é quando a criança apresenta os primeiros sinais de maturidade física. Isso pode levar a mau desempenho na escola, dificuldade nos relacionamentos, uso de drogas e gravidez precoce. A psicóloga Rosely Sayão concorda com a colega. "Pular etapas tem um custo. Os buracos na formação aparecem depois."
Os descontroles talvez tenham uma explicação mais simples do que se supõe: mude o mundo quanto mudar, ser pai ou mãe vai continuar significando educar. "Muitos desajustes vêm da permissividade dos pais, que têm culpa por ser tão ausentes", afirma a psicopedagoga Marilda Ribeiro, da PUC de São Paulo. "Eles não querem desgastar o pouco tempo que passam com os filhos dizendo não", acrescenta Rosely Sayão. Mas isso deforma. "Os pais têm de ser ativos e exercer uma influência tão forte sobre a criança quanto todas as outras que ela inevitavelmente receberá", reforça Marilda.
É o que tenta fazer Cibele Costa, de 37 anos, mãe de Ulisses, de 5, e André, de 12. "Não posso impedir que eles vivam, mas meu papel é avaliar riscos, não deixar que se exponham a situações para as quais não estão preparados", pondera. "Permito que eles tomem decisões com base no leque de opções que eu ofereço." Cibele proíbe determinados programas, não superagenda os meninos e faz questão que eles sintam que a casa da família é um espaço que pertence também a eles. E, claro, prepara-se para situações cada vez mais comuns hoje em dia. "Há dois anos, André perguntou o que era sexo oral no meio do almoço", lembra. "Tive de conter a surpresa e explicar."
Quando os pais não desempenham essa função de filtro entre o mundo e os filhos, os problemas aparecem. Os consultórios estão cheios de crianças com males de adultos, como enxaqueca, obesidade, ansiedade e estresse. Mas também há casos em que a família está atenta. Natália Assumpção mal completou 10 anos e já desconcerta todo mundo. O pai, Eduardo Assumpção, acha que ela tem inteligência emocional. A mãe, Vera Afonso, tenta ajudá-la a se relacionar melhor, pois acredita que ela intimida crianças da mesma idade e também os adultos. Seus comentários embutem uma ironia fina. Uma vez, ouviu uma amiga dos pais comentar que tinha conseguido fazer as crianças tirar uma soneca à tarde. Não perdoou: "Engraçado que a hora mais feliz para os pais seja quando os filhos dormem".
No Colégio São José, na Tijuca, no Rio, suas redações são famosas. Numa delas, reescreveu a saga de Cinderela, incorporando elementos como uma lava-louças, um concurso na TV e uma moto Kawasaki Ninja para levar a moça ao baile. A história, segundo Natália, terminou assim: "O sapato caiu no meu pé como uma luva. Então, eu e o príncipe não nos casamos e fomos felizes para sempre". É, as crianças mudaram.


Fonte: Eugenio Chipkevitch, diretor do IPA


O que você achou dessa reportagem? Concorda com as opiniões dos especialistas? Deixe sua opinião, vamos discutir juntos sobre o assunto.
Um abraço,

Profª Francisca






Juventude e maturidade

O relacionamento dos pais com os filhos adolescentes não tem sido fácil. Além da fase complexa pela qual os jovens passam e que os leva a agir de modo diferente do que seus pais estavam acostumados -e que deixa os adultos um pouco perplexos e sem ação-, a situação está ainda mais difícil por causa de nossa cultura em relação à juventude.
Ser jovem deixou de ser uma etapa da vida para se transformar em um estilo de viver. Isso significa que, quando a criança entra na adolescência, ela passa a se relacionar com adultos iguais a ela, ou seja, tão jovens quanto ela. Na questão educativa, esse é um fato complicador. A adolescência é o tempo de amadurecer, mas, se os pais não ajudarem o filho a entrar na maturidade, ele continuará a agir de modo infantilizado.
Todos conhecem jovens que estudam e... só. No restante do tempo da vida, eles consomem, frequentam festas, namoram e desfrutam da sexualidade, jogam, ficam na internet. Em resumo: eles estudam sob uma enorme pressão de êxito não apenas por parte da família como de toda a sociedade e permanecem prisioneiros de seus caprichos impulsivos.
Para muitos, esse é o momento de buscar desafios para evitar o tédio que se instala nesse tipo de vida. Alguns encontram as drogas, outros desafiam a morte por meio de, por exemplo, esportes radicais, outros se dedicam exaustivamente ao culto do corpo perfeito e muitos outros ficam doentes.O índice de suicídio entre jovens tem crescido no mundo todo, inclusive no Brasil. Aqui, tem aumentado a taxa que envolve a população entre 15 e 29 anos de idade.
Isso significa que eles precisam muito dos pais nesse momento da vida. E o que seus pais podem fazer?
Em primeiro lugar, podem bancar o lugar de adultos perante o filho adolescente, não esmorecer nem tampouco desistir, por mais árdua que a tarefa educativa pareça.É preciso lembrar que pode ser difícil, mas impossível não é, como tenho ouvido muitos pais declararem.
O filho precisa da ajuda dos pais, por exemplo, para aprender a retardar e mesmo suspender o prazer que busca, para saber dividir seu tempo entre várias atividades e obrigações, para se abrir para as outras pessoas e buscar modos de viver bem com elas. Precisa de auxílio também para colaborar com o grupo familiar e para dar conta de várias outras responsabilidades consigo mesmo e com os outros, para desenvolver virtudes e para, sempre que conjugar o verbo "querer", aliar a ele outros dois: o "dever" e o "poder".
Para tanto, os pais precisam aprender a ceder algumas vezes e a ouvir o que seu filho diz -seja por meio de palavras, seja por atitudes. Ouvir não significa atender, mas considerar a dialogar e a negociar. E essa talvez seja a palavra chave do relacionamento entre pais e filhos dessa faixa etária.
Negociar conflitos e demandas com o filho é uma maneira de os pais o ajudarem a perceber que ele pertence a um grupo que segue alguns valores e princípios que são inegociáveis, mas que, ao mesmo tempo, reconhecem o crescimento do filho e, por isso, valorizam sua busca de autonomia. Mas essa negociação deve priorizar a exigência do desenvolvimento de sua maturidade.
A responsabilidade dos pais é grande nesse momento da vida do filho e não apenas com a família e com ele próprio. Afinal, são esses jovens adolescentes que serão os responsáveis por nosso futuro bem próximo.

Artigo escrito por Rosely Sayão e publicado em seu blog:http://blogdaroselysayao.blog.uol.com.br/

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